Enquanto trincava uma finíssima fatia de queijo da ilha, meticulosamente cortada por um faca de serrilha e colocada lentamente entre duas fatias esquálidas de pão alentejano, eis que o emi-ciclo da República surgiu no ecrã mágico em todo o seu explendor, colorido pela franja esparsa do senhor parolo Ministro de Estado (avé) e das Finanças, Vítor Oliveira Salazar Gaspar. Portugal está agarrada pelos colhões, e de joelhos, o que talvez seja uma impossibilidade anatómica, mas não vou entrar nestes pormenores sórdidos da sociologia política.
Uma pessoa está diante do ecrã e no momento mais fácil para a oposição, em toda a história dos debates parlamentares, em mais de 2500 anos de história de reis ingleses e franceses decapitados, primeiros-ministros das Provínicias Unidas esfolados, e reis portugueses tardiamente baleados, o que sucede? Fazenda, Apolónia e Galamba puxam da sua erudição republicana, do seu vitalizante conhecimento da língua portuguesa, do seu incomparável faro estratégico, da sua gigantesca capacidade manipulatória do confronto político, da sua inabalável convicção nas causas, e disparam o original, o vertiginoso, o arrasador argumento do sofrimentos das pessoas.
Era preciso explicar que as pessoas são justamente o problema, ou não tivessem as pessoas eleito Pedro Passos Dias a Foder Portugal Coelho, com toda a tranquilidade do universo, tanto as pessoas que votaram nele, como as pessoas que nele não votaram por estarem na praia, no Continente, no A Tua Cara Não Me é Estranha, na cona da mãe delas ou flutuando numa jangada perigosamente sobre o pântano da pobreza e do desemprego, o que para efeitos do debate parlamentar é a mesma coisa, ou julgarão Fazenda, Apolónia e Galamba que as pessoas que não vão votar, e as que se afundam no Desemprego, às vezes são as mesmas, têm tempo para assistir curiosas e expectantes aos debates parlamentares? Pois se ardem em sofrimento desesperadas ou se trabalham de sol a sol como poderão assistir ao elogio épico da sua tragédia? Ou quererão Fazenda, Galamba, e Apolónia aparecer cinco segundos no jornal da noite a derramar lágrimas sobre o sofrimento? Há aqui qualquer coisa de sacerdotal, qualquer coisa típica dos grandes hípócritas. Embora os pecados da direita sejam mais graves, eu diria, com Marx e Jesus Cristo, que os hipócritas são especialmente exasperantes.
Todo o operariado, os trabalhadores, os pretos, os ciganos, os explorados que têm sido enrabados pela República Portuguesa e o seu Parlamento em toda a nossa longa história, o que espera não são lágrimas pelo seu sofrimento, pois conhecem bem esse sabor, o que espera todo o fraco e oprimido é justamente a derrota política do ignorante do Vítor Gaspar, mas desta vez com argumentos.
O ponto central da discussão sitou-se no conceito de expansão da procura. Segundo a besta Vítor Gaspar, 1,65 cm, 70 kg, a expansão articial (primeiro conceito a reter) da procura, hipertrofiou os sectores de serviços e de bens transaccionáveis nos últimos 20 anos. A economia foi distorcida (segundo conceito a reter) por rendas e margens de monopólio o que gerou um crescimento económico medíocre (o mais medíocre depois da 2ª Guerra Mundial, segundo (Vítr Salazar Gaspar) e apenas foi sustentado pelo sobre-endividamento. Ora a besta Galamba, 1,80 cm, 80 kg, apenas conseguiu indignar-se e apelidar a interpretação económica de Gaspar como fanática - um libelo que os fanáticos costumam receber como um elogio - integrando-o como membro de uma suposta escola, a neo-liberal. Caralhos me fodam, Galamba: o que é que eu disse aqui? Não vos proibi expressamente de utilizar esse conceito sem fazer o trabalho de casa? Ora, a interpretação económica de Gaspar não é fanática, é ignorante.
A rendas (free-rent) e os preços de monopólio de que Gaspar fala são, em primeiríssimo lugar, fornecidas pelo sistema político e qualquer economista neo-liberal sabujo defende que o sistema político é um instrumento que não deve atrofiar o funcionamento natural (ora aqui está) da sociedade. Gaspar, para que estás a mexer nesta merda? Deixa estar como está, foda-se, não venhas distorcer a evolução natural da curva da procura e reduz essa merda do lado da despesa, enviando para o olho da rua metade do teu gabinete, mais metade do gabinete de cada um dos ministérios, mais toda a despesa do Estado em Hospitais e Escolas Privadas, em Prisões cheias de pilha-galinhas que não fazem mal a uma mosca, mais os generais do exército e a corja de juízes que mama na teta da República. O Gary Becker não recomendou que se pagasse para não se cometerem crimes, que fica mais barato? Tem calma que eu sozinho (isto poderia dizer o Galamba) faço as contas que são necessárias, munido de lápis e caderno de capa preta, daqueles que o David Carreira diz na rádio que utilizou para escrever as suas canções e que são, diz ele, inspiradores.
Pouco depois, aparece o António Sala na televisão e diz: «cada vez que posso, compro ouro em moedas ou em barra». Belisquei-me. Foda-se, caralho, que é esta merda? Será o apocalipse? Onde estão os quatro cavaleiros e as suas espadas de fogo? Mas António Sala apressou-se a explicar: proteja-se do caos financeiro e compre ouro. Fui a correr para a cozinha e abri um garrafa de vinho do Porto.
6 comentários:
Este comentário é justo mas está fora de prazo.
Levámos 6 anos a ser roubados por um crápula e todos calados ...
O parlamento é a imagem do país todos caladinhos para poderem comer.Considero-os todos cúmplices.
O socras e a pandilha do BPN deveriam ser presos investigado depois.
os deputados, locutores e todos os parasitas que ganham acima de 2000 euros deveriam entregar ao estado o excedente a bem da nação.
Mas como uma desgraça nunca vem só este governo é de atrasados mentais,disso não tenho a menor dúvida.
eh eh eh eh
São os dois muito bons :)
Thchekov, deve ter sido um excelente ser humano :)
tchekhov :))
eu a pensar que ia ler uma merda sobre escritores russo e sai-me um montanha da cagalhões em forma texto que inicia com a história de uma fatia de queijo, termina com o antónio sala (perdão, com uma garrafa de vinho do porto. ok ok... qual a diferença entre uma garrafa de vinho do porto [não o vinho em si] e o antónio sala?) e de permeio ficamos a saber que o galamba (quem?) mede cento e oitenta centimetros de altura e o salazar gaspar apenas um cento e setenta centimetros de altura.
ora...
se isto não é motivo suficiente para enviar o autor da posta para a cona da tia do salazar gaspar (mãe do xico louçã, para que conste) não onde ficamos não sei, mas não será aqui.
ps: hoje ao jantar comi cavalas enlatadas. pode ser?
E o pior, é que eu sou uma criminosa, biltre da pior espécie, invertebrada idiota, que votou nestes acefalóides. Até um cego teria visto mais longe....
Percebo a vossa alegria: isto está-vos a fazer lembrar um debate no canal ARTE. A despropósito do ARTE e a propósito do tema do debate que aqui se desenrola e eu já nem sei qual é, mas também não interessa, tenho a dizer-vos que me lembro que aqui há uns anos passei 5 horas em frente à televisão sem um único zap: passaram no ARTE um especial sobre o Cioran, com entrevistas dele, depoimentos de gente muito próxima, imagens inéditas e outras maravilhas do género. No dia anterior o Sporting tinha ganho ao Porto. Foda-se, aquilo foi música para os meus ouvidos: ganhar ao Porto e a seguir 5 horas de Cioran. Mas isto era só para dizer que eu, que nunca vejo debates na televisão e quase nunca vejo programas sobre aquilo a que algumas pessoas chamam “cultura”, também tenho os meus momentos de telespectador. Mas nesse dia vi, gostei e por isso partilhei essa minha lembrança convosco. Encarem isto como uma daquelas xaropadas do Mexia quando refere uma tampa que levou há 20 anos e acompanha com um poema para dar ares. Vão ver, lá no fim do meu ensaio, que hoje também vos vou deixar um poema.
A minha secretária ainda está de férias, tenho as coisas um bocado desorganizadas e a agenda um pouco atrasada. Mas tenho prestado atenção ao que de mais importante se tem passado no mundo e sou capaz de dar opiniões prestimosas sobre várias matérias, já lá vamos. Mas antes quero fazer esclarecimentos a dois comentadores profissionais da Causa: à Sílvia e ao Poursan. À Sílvia quero pedir desculpa por uma maldita gralha que ficou registada num dos meus ensaios lá para baixo. Foi na década de 90 que marinei na velha Albion e não na de 80, como lá ficou escrito. Na década de 80, estava aqui mais perto de vocês e fazia parte de um gang chamado Ring Da Bell, que se dedicava a colocar palitos nas campainhas de rua dos prédios, de modo a que a campainha ficasse a tocar até que os condóminos viessem à porta tirar o palito e repor a situação. Ainda hoje sou grande amigo de um dos membros do Ring Da Bell, mas não faço puto de ideia do que aconteceu à maioria dos meus colegas de gang. Presumo que já nenhum se dedica à actividade, mas não sei. Ao Poursan quero dizer que fiquei desiludido com parte do comentário dele. Porque me estou a cagar para a literatura, preocupando-me apenas com os livros. E também porque nunca fiz parte de nenhuma tertúlia, literária ou sobre outros temas, não só porque não me deixariam entrar, como também, caso me deixassem entrar por engano, me punham na rua em dois tempos e ainda bem para mim. É que eu não consigo estar quieto nem calado quando ouço pessoas a dizer disparates. Para que vocês tenham uma ideia, hoje pus-me logo a dançar Amor Fati dos Washed Out, com a música bem alto, os 5 minutos em que assisti à figurinha triste do Gaspar a tentar linguajar na Assembleia da República.
Respondendo então ao alf. Gosto pouco de queijo, acho que o principal problema do Gaspar não é falar aos solavancos, é pensar aos solavancos e não me meto com a Heloísa Apolónia porque acho que ela é gaja para o maradona e eu não quero nada com as mulheres dos meus amigos. Fiquei a saber pelo alf que partilho uma característica com o Gaspar: peso 70 kg e que partilho outra característica com o Galamba: meço 1,80 cm. Porém, antes de começarem com merdas, garanto aqui que mais nada me une a essas duas criaturas que eu quero que se vão foder, bem longe de mim.
Não sei se o Tchekov é melhor que o Gogol. Eu conheço melhor o Tchekov e não seria justo dizer qualquer coisa de definitivo sobre o assunto. Como vocês estão cansados de saber, o que eu digo num instante vira lei, e eu não quero que a empregada da minha vizinha do lado, ao cruzar-se comigo nas escadas, me diga que viu na Wikipedia que eu tinha dito que o Tchekov é melhor que o Gogol. Tenho uma reputação a manter.
Deixo-vos com um poema. E nem tenho conta no Santander.
http://www.youtube.com/watch?v=bR2QtaXSKCg
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