sábado, 8 de janeiro de 2011

Tenho muitas dificuldades em lidar com a frustração

Este trabalho de Vangelis é uma verdadeira porcaria - como quase toda a sua obra -, na sequência de um aproveitamento bárbaro e infame de um artista sério, martirizado, genial e como não podia deixar de ser, melancólico. Os sons sensacionalistas, usados em comícios populares, mergulham o amante da música na mais violenta desilusão, por ser tão escassa a qualidade de homens políticos capazes de se furtarem ao ridículo consumo das aparências: uma música que quase parece ser aquilo que não é. Não por acaso, nos próximos dias que serão os últimos, ouviremos concerteza falar da honrbilidade, uma coisa que não se experimenta fora do corpo. Acontece que a honorabilidade não se discute, é o que parece gritar surdamente aquela golilha espanhola pintada por El Greco, aqui em cima, que fez as delícias de Thomas Mann, um escritor que, à semelhança de Hulk, está claramente sobrevalorizado. Falemos com franqueza: a Montanha Mágica promete nas primeiras trinta páginas conceder-nos a experiência da grande literatura, referências ao vinho Porto, situação da classe burguesa na Hamburgo de final do século XIX, um jovem entalado entre o desejo de mulheres bonitas, elegantes, e a tortura de uma profissão que se não deseja, enfim, estão lá todas as promessas eternas. Acontece que, tal como o Benfica de Fernando Santos, à passagem da meia hora de jogo, isto é, trezentas páginas depois, confirmam-se os piores pesadelos: o livro resvala na irrelevância palavrosa de um germânico fim de século desorientado entre referências filosóficas, o cansaço alpino das neves eternas - ah, o terror da cor branca já identificado por Melville - e uma enorme chatice de cornucópias narrativas a terminar num perfeito desastre artístico. Algo de semelhante se passa com o Professor Aníbal Cavaco Silva. Não está em causa a vitória nas próximas bodas presidenciais, e o transformar da água em vinho é mais do que uma certeza: é uma satisfação anunciada, o festim de todos os sabujos, tão abundantes em Portugal como a gaivota-asa-de-ladrão. Em todo o caso, já nem sequer José Pacheco Pereira consegue esconder um certo tom fim de festa, o que nos devolve ao tema inicial: a vida é uma estranha viagem a caminho do inferno.

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