sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A Saca-Rolhas



Nos últimas semanas a minha caixa de email e, julgo, as de toda a gente, foram invadidas por um interminável número de mensagem sobre a castração de Carlos Castro que de humorísticas tinham tanto como uma imagem de cavaco a comer bolo rei ou de Bettencourt a festejar um campeonato do Sporting, um clube que parece castrado desde que, como se faz aqui, se decidiu aceitar e até reforçar a supremacia do FCP, objectivando diminuir, com sucesso, a virilidade do Benfica.
Pergunta Renato "Carlos, castro?" ao que este respondeu: "sim". Não via, confesso, uma castração tão grande desde que Sócrates decidiu apoiar Alegre, uma cambalhota que tem tanto de poética como de patética, transformando a candidatura do homem de combates numa espécie de ejaculação precoce, democraticamente precoce, diria.
Mas a ele ninguém o cala, nem castra, "Renato, seabra!" (ler com sotaque brasileiro), gritou Carlos, e perceba-se aqui a ironia de “gritou”, porque a ele ninguém o cala, perdão, castra. Mas castrou.
Li aqui da semana passada o percurso de dois meninos de sucesso. Ambos nos diriam, e dizem, se para aí for o debate, que são como o vinho do Porto, quanto mais velhos melhor. Renato, percebendo mal o significado das palavras de Castro, foi buscar o saca-rolhas confundido o vintage com o velho, ainda que num palavreado íntimo se aceite alguma brejeirisse, como as alusões à SLN ou a contínua ameaça “ou eu, ou a crise”. Diz o Renato “Então espera aí que eu vou buscar o saca-rolhas!”. E diz “Carlos vou-te sacar um olho.” Diz Carlos “Vais sacar é o caralho…”.
Enrolhado, perdão, enrolado nas sondagens de hoje, diria que estamos fodidos, enrabados até. Mas calma, que eu até não sou pessimista. Sinto-me é como a bovarinho de Manuel de Oliveira a passar por debaixo das laranjeiras em direcção ao Douro ou então, porque também sou pelas modernices, a caminho do metro em Nova York, mas via respiradouro, como o castro, como se me custasse respirar e me faltasse ar com sufuciente qualidade democrática.

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