quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Aos defensores da diversificação ao nível das fidelidades intelectuais terei que confessar a minha lamentável reincidência em autores da margem sul

Nem sequer gosto de citações longas e se há merdas que me irritam na historiografia brasileira é a insistência com que coleccionam longos trechos de cartas de governadores do Rio de Janeiro do ano de 1731 em teses de doutoramento dos mais variados temas históricos só porque foram sugestionados com a ideia pós-moderna de que uma citação longa se transforma num testemunho com a credibilidade daquelas confissões de velhinhos contra fundo negro filmadas pela BBC no intuito de convencer o espectador médio de que o holocausto existiu mesmo (Israel, amigo, além de um abraço, isto nada tem que ver com o Apoel). Acontece que o autor que em baixo se aduz, com a mais despretensiosa reverência - e o Senhor Jesus sabe como temos trabalhado uma singela citação (a próxima etapa implicará o desgraçamento moral) - continua a ser o que de melhor existe no âmbito da crítica intelectual nestes nossos dias que são últimos. Como a humildade é uma virtude próxima das lamas da criação, e dizem que Tchékov copiava à mão contos de Tolstoi, «para trabalhar o estilo», eu não me envergonho de espetar aqui com mais um pedaço de luta pelo esclarecimento e pela emancipação, único apanágio do trabalho intelectual, e algo que até um taralhoco como Eduard Said foi capaz de perceber. Dizer apenas (ajeitando a gravata e puxando o microfone parlamentar para um raio de dez centímetro a contar da ponta do meu pronunciado nariz) que pode juntar-se as essas notas sobre ciência uma merda chamada Livro de Dança, ou outra versando sobre essas monumentalidades do pensamento ocidental que são Maria Filomena Mulder e Gabirela LLansol o que por si só bastaria para medir o nível de desnorte intelectual, emocional e científico que graça em certas cabeças laureadas. Peço a Deus, encarecidamente, e todos o dias, depois de lavar meticulosamente a dentuça com pasta medicinal Couto, que me guarde de tais coisas ou que me assista, num momento de hipotética fraqueza, com um caçadeira de canos cerrados com que fuzile qualquer tentativa de me agraciarem com um prémio. Até porque, para tal, terei que publicar, e isso, o senhor seja louvado, ainda está nas minhas desesperadas mãos.


...lembro-me distintamente de lhe ler uma coisa lá dele, em pé na Livraria Trama, o Breves Notas Sobre Ciência (Relógio d'água, 2006), podendo dizer com segurança que é uma das piores coisas que li na vida, um monte de fotografias do fujimori, inconsequentes clichês de jorge luis borges na cabeça, sem qualquer sentido, direção ou lógica; tresanda a digestivo podre de noções de filosofia da ciência, um amontoadozito de zenões de cinco ou seis frases (dipostas do fundo da página para cima, claro), que nem para uma historiografia do que é a recreação adolescente mereceriam salvação (não me pagam para concretizar).

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