Parece que foi ontém. A bola laranja rolava no alcatrão do campo da escola. Era, pela primeira vez minha. Não o "minha" que grita um qualquer experimentado jogador de futebol. Mas MINHA, com os escudos todos, acordado numa manhã de Natal por um estranho e quase arredondado embrulho. Era o meu bilhete para jogar. E joguei.
Parece que foi ontém. O caminho é longo e o homem não envelhece. Restam as luzes da ribalta. O fato, retornado a casa pela empregada de sempre, esbate o azul no transparente plástico da lavandaria. Chega ao estúdio e como se uma associação se tratasse comercializa-se o que se pode dizer, o que se deve escutar, o que se pode escutar.
- Escuta! Dizem-me os amigos de jogo, não estás a jogar nada!! Tens que aceitar isso. Não nos leves a bola senão o jogo acaba!
- Escutem, escutem com atenção. E vejam, vejam como os donos da bola podem acabar com o jogo! Refere o interlocutor como se de um guião de um filme se tratasse. Um longo filme. Um filme minimalista, como só o jogo de poder pode ser.
Acabei a jogar sózinho no quintal. O grande jogo, esse, continuou.
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