Pergunta, o caro leitor, qual seria a única matéria capaz de me ressuscitar da letargia nevrálgica em que estou mergulhado há mais de trinta e três dias? Só podia ser, naturalmente, um relato mímico-lúdico da mulher do Dr. Pôncio Monteiro, rodopiando tenebrosamente na penugem persa do tapete da sala (sob a observação geladamente suiça de um relógio de pé e a consideração servo-vegetativa de uma criada de casa, ornada com uma bata azul e cabide de uns castos óculos de massa), relato que procurava descrever o calvário médico-biográfico do conhecido ex-dirigente do Futebol Rúben Micael, e actual comentador desportivo num canal de televisão que agora não quero recordar, no momento em que sofreu a explosão mental (inaceitável) de um aneurisma, prontamente solucionado por um neurocirurgião, cínicamente, adepto de um dos dois clubes da segunda circular ao perímetro urbano de Lisboa. Note-se, a talhe de foice, que esta denominação pode levantar dúvidas nos espíritos mais escolásticos, uma vez que o perímetro urbano, dadas as complexas definições da Geografia e da nova ciência de polícia, é matéria de grande polémica académica. Em todo o caso, a mulher do Dr. Pôncio Monteiro contou, no meio de um vendaval emotivo, perante a estupefacta mas não surpreendida Judite de Sousa, como obrigou «Nosso Senhor, a dar-lho por inteiro». A dar-lho - o Dr. Pôncio, claro. Após esta emociado confissão, em que se misturaram visões místico-médicas (houve orações de Nova Iorque até ao Rio de Janeiro), e confissões cruas («Não foi por isso que me deixaste de moer a cabeça») ficámos a saber que o grupo do Alterne (jogadores de Golfe amigos do Dr. Pôncio com mais de setenta anos e menos de setenta e sete) espera com grande saudade o regresso ao green do famigerado jogador. A bela sociedade portuense saúda a franca recuperação de um dos seus mais ilustres membros e congratula-se pelo feliz desfecho de tão lamentável caso.
1 comentário:
tu voltaste foi pelo benfica-sporting desta noite
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