Na ponderação de vários problemas - entre os quais, a possibilidade de construir uma teoria da importância de Marco Tardeli para a expressãp pós-moderna da dramaturgia - fui interrompido por uma das mais desconcertantes e recorrentes inconsistências do trabalho doméstico: imagine o leitor aquele momento em que, quando damos início à passagem da esfregona por uma superfície lisa - previamente varrida -, nos deparamos com inúmeros micro-objectos que confirmam um facto irrevogável: efectivamente, a superfície não estava eficientemente varrida. Nada mais odioso do que assistir a vestígios de vários organismos arrastando-se no vendaval centrípeto de uma esfregona oliosa. Vem isto a propósito de mais um vídeo promocional no mercado literário - INSTANTE FATAL: Elogio a Filipa Martins - que o caro leitor não pode deixar de observar porque confirma um novo caso mental, cujo estudo se impõe com a força da necessidade migratória da andorinha. Quanto a Pedro Arroja, não discuto que possa constituir um desafio intelectual. Toda a realidade - desde Sá Leão, passando por Tamagini Néné, até chegar ao teclista dos Gift - pode constituir um estímulo ao pensamento. O problema está na medição dos resultados desse estímulo. Ninguém nega que existem conteúdos estimulantes dos globos oculares tanto em Manuel Luís Goucha como em Cristiano Ronaldo. Ambos enriquecem a nossa ecologia mental. Contudo, de um ponto de vista da tipologia masculina e da relação com a tradição clássica e a importação dos mais recentes contributos da modernidade, parece não constituir problema reconhecer a supremacia do futebolista a evoluir nos relvados espanhóis. Não faço aqui juízo de valor. Apenas chamo a atenção para as nuances decisivas com que talvez fosse benéfico nortear a condução intelectual da nossa vida. Não quero ser paternalista. Deixemos os homens bonitos para as mulheres sem imaginação (porque será que isto soa muito melhor nesta versão invertida?). Em todo o caso, reconheço que Pedro Arroja não é Henrique Raposo. O primeiro escreve com correcção. O segundo ainda não acabou de ler os livros recomendados no programa de Português B do 11º ano.
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