quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Salema Garção é uma pessoa com enorme margem de progressão

O mais aconselhável seria continuamente elogiar mais um post de Maradona, pelo menos até que o debate da liberdade de expressão fosse deslocado para o questionar das razões que explicam o facto de termos um espécime como Pedro Mexia a escrever quase-crónicas de entretenimento num jornal de referência e Maradona a escrever num blogue obscuro que possui mais textos classificáveis como literatura numa só semana que as obras completas de José Luís Peixoto a publicar daqui a 50 anos, quando, deus queira, eu já seja apenas uma indistinção daquela lama verde-gosma que alaga os corredores alcatroados dos cemitérios quando chove e naõ tenha de sofrer um prefácio do neto de Margarida Rebelo Pinto a introduzir-me a originalidade e espectacular qualidade narrativo-socializante dos textos de Peixoto pelo recto acima. Contudo, estou cansado de identificar nesgas de beleza, até porque quem sabe, sempre soube, e quem não sabe, provavelmente nunca virá a saber, pelo que seria perder tempo dizer que isto é mais uma manifestação de virtuosismo lógico-semântico ao alcance de poucos, que é o mínimo que se pode dizer de um texto que sendo de muito difícil elaboração vem coroar uma ideia que estava prestes a rebentar as águas do nosso espírito e milagrosamente aparece depois esvoaçando com a naturalidade de uma libelinha verde zinco a sobrevoar as águas paradas de um riacho represado na cova da Beira. Por outro lado, não pode hoje ser esquecido o melhor momento de Carlos Carvalhal (e não Carvalhas), isto de um ponto de vista da produção de símiles lógico simbólicos na análise da vida, desde que passou pela abençoada floresta de cabelos cinza de um antigo administrador do banco Santander (estes gajos dos Bancos sabem fazer finance profile como ninguém), trazer um indíviduo, com um grau académico de estudos superiores, para treinar a comitiva de papa-pitas de Alvalade, mais conhecida por SCP. Carvalhal pensou que o lance de João Pereira é «mais aparatoso do que real», o que me fez saltar imediatamente no sofá e sujar umas calças vestidas de lavado, ontem mesmo, com dois sebosos pingos de cerveja sagres (na verdade era vinho tinto Terras d'el rei que é uma tão grande merda como a cerveja Sagres). O caso não é para menos. Ficámos de ontem em diante munidos com uma ferramenta simbólica de altíssimo gabarito. A derrocada das Torres Gémeas? Mais aparatoso do que real. O desembarque na Normandia? Mais real que aparatoso. A pernas de Heidi Klum? Tanto real como aparatoso. As declarações de Paulo Rangel? Nem real, nem aparatoso.

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