O problema não é, evidentemente, a liberdade de expressão. O problema é a forma de organizar a expressão das individualidades de maneira a não lesar o público, isto é, a comunidade, ou seja, a noção que a malta tem do colectivo, tal como numa equipa de futebol a performance no relvado é directamente influenciada pela auto-imagem que o balneário possui sobre si próprio, como afirmou um dia João Vieira Pinto - o futebolista português que mais cedo experimentou as delícias eternas da paternidade. E não se julgue que estamos a falar da reflexão auto-inflingida por espelhos de corpo inteiro, chuveiros de tecto, azulejos revigrés, ou suportes de toalhas turcas. Estamos sim a falar da forma como os indivíduos se representam a si próprios no teatro da mente e gostam de influenciar a mente do colectivo com o teatro das suas patéticas personalidades. Entre a censura e a liberdade de expressão tenho feito várias piscinas de forma a procurar uma solução para o problema do analfabetismo político-cultural da sociedade portuguesa. Distribuir obras de referência nos jornais de referência? Não resulta. Expôr as lições do advogado-educador Medina Carreira em horário nobre? Não resulta. Eleger um Professor Catedrático de Economia para a Presidência da República? Não resulta. Transformar a Laurinda Alves numa colaboradora regular de revistas femininas? Não resulta. Contratar o Luís de Freitas Lobo, o mais erudito adepto do futebol clube Ruben Micael, jamais idealizado pelas mentes mais perturbadas, para comentador desportivo-televisivo da RTP? Não resulta. Entretanto, interrompi a leitura de Born under Saturn, o que invariavelmente me provoca pausas de raciocínio, como se subitamente sofresse uma transmigração de massa neuronal e a Patrícia Reis viesse ocupar o coração do meu sistema nervoso central com o mesmo despeito invasor e totalitário das botas do exército inimigo calcando os prados floridos de uma terra recém conquistada. Stop. Até amanhã e não se aleijem durante a noite.
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