É evidente que não tenho tempo para fazer acompanhar este post de um ensaio crítico em que ponderaria tanto os méritos relativos do jovem intelectual proto-literato de influência cultural anglo-saxónica e colaborador da Ler, como a iluminadora vitalidade vernáculo-científica do adulto-jovem da margem sul, também de influência cultural anglo-saxónica mas cujo recorte literário atinje já, neste momento, alguns dos momentos mais conseguidos da prosa alinhavada na língua de Júlio Isidro. Onde Casanova ainda desenha rabiolas como quem quer provar amplas leituras e capacidades técnico-esquemáticas em alusões multi-variadas de vários nexos, cruzando escritores ingleses apanhados em processos de pedofilia com crónicas recém-publicadas em revistas da moda, Maradona, por seu turno, é já todo ele uma nova forma de linguagem, conseguindo tecer no mesmo post - como quem junta molho coktail com Sunday de caramelo, e sem nunca abandonar níveis mínimos de coerência interna -, relações de causalidade modificada entre botas de 250 euros que rodopiam num baraço de metro e meio e referências à complexa tipologia de espingardas metrelhadoras usadas nas praias de Balbec pelas tropas americanas. Um simples confronto dos títulos dos blogues em causa serviria para ilustrar as diferenças entre os dois estilos em presença. Em todo o caso, ninguém duvide e atenção que não estou a brincar (e se preciso de avisar é porque o assunto é sério): qualquer dos dois (Maradona e Casanova) é incomensuravelmente mais autor, com maior sulco de carácter referencial na produção de textos escritos, com maior originalidade, mais profunda cultura literária e científica e, o que talvez importe mais que tudo o resto, maior nível de sofrimento interno por estar mediático-crucificado num país maravilhoso mas repleto de cócós em decomposição, do que qualquer gualter ricardo pai ou José Miguel Perdigoto. Brilhante, brilhante, seria ver Maradona e Casanova a exercitarem a capacidade de entrever (verbo mais dificil de conjugar do mundo) nas praias da Normandia os efeitos reverberadores da luz em pinturas de Elstir - como todos sabem, o pintor atormentado de Em Busca do Tempo Perdido - e a sua inevítável relação com a melancolia dos jovens novaiorquinos que por fudidas cornucópias do destino vieram deixar os colhões nas praias impressionistas do noroeste da frança para nos livrarem de uma sórdida moscambilha de cariz político-xenofobo-social inspirada, ou se quiserem permitida, pela decadência pequeno-burguesa (ou estético-grandiosa) de um indivíduo como Proust, a quem faltaram duas palmadas no rabo, a frequência do colégio militar da Luz ou, em última análise, e na pior das hipóteses, uma pega de touros na festa do colete encarnado em Vila Franca de Xira, local onde me encontrarei amanhã para escrever em português a obra mais importante do século XXI.
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