Tem chovido muito, o que em nada contribui para a atenuação do pântano em que alegadamente, mas não só, teimosamente nos dizem que continuamos a viver. Seguem os contornos cómico-depressivos em torno das questões de carácter do primeiro ministro, de onde sobram reflexões sobre as alturas de responsabillidade em que flutua o mais alto condutor da nação, o que me leva a pensar sobre os níveis de intensidade democrática detidos por sociedades expostas a níveis absurdamente intoleráveis de luminosidade solar. Mesmo sabendo que as explicações ao nível da climatologia política não satisfazem todas as mentes em causa, eu lembraria que mais tarde ou mais cedo o Verão chegará, inevitavelmente depois do Inverno, invertendo o aforismo saído do carácter semi-bife do poeta empregado de escritório e arrastando toda a pátria portuguesa para as terras meridionais, escaldando o peito e arrefecendo a coxa nas águas tépidas de um atlântico travestido de mediterrâneo. Há também a aventura enrolada em panejamentos turcos ou tingida por alaranjado tibetano, a saciar os espíritos que como Gonçalo Cadilhe padecem do espírito das viagens. E o que são as agências de rating ao pé das agências de rafting? Por outro lado, há sempre a possibilidade de em Portugal comer bacalhau à braz por 4,50 euros, bacalhau confecionado por uma cabo-verdiana de cinquenta anos, desaguada nas praias de Portugal por casual acaso horrendo do destino (the horror) que por mexer (o que faz aqui um central do Sporting?) o bacalhau com inusitada competência africana recebe de massa salarial 660 euros pretugueses com chancela europeia (como está senhor comissário?), isto no mesmo restaurante onde o bacalhau poderá eventualmente custar 5,75 euros, apesar do preço relativo em função da tensa oposição aritmética oferta-procura indicar os já referidos 4,50 euros, o que não sendo um escândalo, não deixa de constituir um bom cartão de visitas a quem queira especular durante uma hora e meia de bacalhau bem regado com vinho branco as razões de não me ter ainda dedicado a coisas que realmenre importem (como ler o Prefácio de Medina Carreira à Última Crónica de Mário Crespo) em lugar de procurar verbalizar sentimentos manifestamente obscuros, que por incluirem caçadeiras de canos serrados, as obras completas de Patrícia Reis e a sifonia nº 5 de Beethoven, nunca poderiam fazer parte das expressões psicológicas respeitadas num Estado de Direito.
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