quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Vai um shot de propaganda com cereja e duas pedras de gelo?

Nuno Gouveia, pensador filo-americano, 32 anos
José Gomes André, pensador filo-americano, 29 anos

Sempre me fascinaram as interminávies acusações, especulações, considerações e estimativas em torno da verdadeira idade (ou mesmo sexo) dos atletas africanos participantes em competições desportivas internacionais. Todavia, nada se compara com a intentona do blogue «Era uma vez na América» ao procurar convencer os imberbes internautas de que os seus autores se enquadram no intervalo etário dos jovens agricultores ou naquele espaço fronteiriço, acossado por todas as frentes, situado algures no âmago da massa encefálica dos jornalistas, que faz diferenciar um jovem 29 anos assaltante de uma Ourivesaria no Barreiro de um homem de 33 anos que matou o cunhado no lugar da Bouça, em Moimenta da Beira. A simples análise a olho nu das fotografias acima colocadas, desmente qualquer tentativa de justificar o facies torturado e maduro apresentado pelos dois brilhantes, mas idosos, investigadores. De qualquer modo, são de especial notoriedade algumas das reflexões que os dois veteranos de guerra no Afeganistão apresentam ao público bondoso mas escandalosamente desconhecedor da realidade Estado Unidense (para parafrasear os nossos sempre inigualáveis irmãos brasileiros - aquele abraço). Se é verdade que temos assistido «à ascensão de países outrora quase irrelevantes no panorama mundial», e não estamos seguramente a falar de Portugal, o facto é que «os Estados Unidos continuam a ocupar um lugar singular no quadro internacional, pelo seu dinamismo económico, competência tecnológica e poderio militar, bem como pela sua sociedade vibrante, multicultural e empreendedora.» Com efeito, todos temos sentido o vibrar da sociedade multicultural americana, especialmente a forma como uma parte considerável dessa sociedade vibra com o facto de pendurar indivíduos de raça negra (podem ser também hispânicos na versão actualizada) em árvores tornadas irrelevantes no quadro do desenvolvimento da economia americana. Sobre o multiculturalismo, vamos passar ao lado, para não ter que recorrer a palavras cabadas em «brón». Nunca será demais agradecer aos nossos irmãos filo-americanos a tentativa de contrariar «motivos históricos, geográficos ou culturais», como sabemos, história, geografia e cultura, tudos coisas irrelevantes quando está em causa criar «um veículo de proximidade com aquela que é, ainda, a "nação indispensável" de que Madeleine Albright falava há uma década atrás.» Apesar de sempre termos simpatizado com Madeleine Albright, não obstante os seus tenros 31 anos, temos que reconhecer que por vezes bem poderiamos dispensar a nação indispensável, por exemplo no que toca à produção cinematográfica mais recente, para não falar da exportação em massa do economês, língua que mais tem contribuído para a desorientação políticas de países sub-desenvolvidos como Portugal. Tudo isto poderia ser também traduzido pela expressão «Ó bife paga aí a minha tosta mista». Em todo o caso, há no blogue citado muitas palavra belas que não poderão deixar de estimular o saco lacrimal do leitor: «Se existe uma mensagem intemporal no "sonho americano", ela reside na exaltação da capacidade do sujeito para superar os mais temíveis desafios, e assim realizar a humanidade de cada um num palco colectivo. No "Era uma vez na América", procuraremos honrar a essência dessa mensagem, que não só é um guia inspirador para os tempos conturbados em que vivemos, como expressa uma ideia adequada ao espírito deste projecto: a criação de um espaço informativo e reflexivo partilhado, mas onde coexistirão duas opiniões individuais.» Depois de várias leituras destas duas frases tenho tido algumas dificuldades em identificar o elemento especificamente Estado Unidense na «exaltação da capacidade do sujeito» e muito mais dúvidas me têm sacudido a consciência sobre o que será a «realização da humanidade de cada um num palco colectivo». Com certeza, existem em mim imperfeições analíticas, históricas, geográficas e culturais (que algumas semanas de férias em Nova Iorque rapidamente poderiam ter resolvido) que me impedem de estar à altura de honrar a essência da mensagem e o espírito do projecto.



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