A limitação do tempo implica escolhas que não são necessariamente um cálculo aritmético. Se apenas tenho duas horas antes do visionamento do Benfica/Académica, posso ocupá-las terminando a leitura do Templo Dourado ou arrumar a casa, posso ir lanchar a uma pastelaria e ler a retirada dos dez mil de Xenofonte ou posso decidir fazer um investimento na bolsa no valor de 350 euros. Qualquer uma destas acções tem consequências contabilísticas correntes diversas mas tem também retorno variável no decorrer do tempo. Posso estar hoje subtraído do preço de um galão e torrada mas munido do conhecimento das peripécias épicas de quem caminha na lama e na neve, entre desfiladeiros e os ataques hostis das tribos inimigas, posso ter menos 350 euros mas daqui a um ano ser beneficiado com 500, fruto de um súbito e lucrativo negócio com o Estado, congeminado pela empresa onde sou accionista, isto enquanto desfaço a pestanas a ler as variações interiores de um jovem candidato a monge budista num templo perto de Quioto. Posso ainda introduzir a minha consciência num saco de plástico do pingo doce e depositá-la com todo o vigor num arrabalde da periferia e depois aclamar José Pedro Aguiar Branco como o maior líder parlamentar dos últimos quinze segundos. Claro que todo o retorno variável das acções (atenção à variação espectacuar desta palavra), é sempre assumido pelos comentadores políticos de um ponto de vista neoclássico, e como um problema esfingício, ainda assim ao alcance das suas capacidades adivinhatórias, supreendendo o espectador toda e qualquer ausência de cálculo em defensores da economia de mercado como um sistema de preços. Isto deve explicar-se pelo facto de a economia ser apenas uma forma de governar os descontentes como no passado o direito feudal. Assim como os guinchos de Manuel Luís Goucha são uma forma de manter disciplinadas aquelas velhas desocupadas que esperam o momento de fraqueza do condutor do programa para cumprir a sua missão de fúrias do destino. No escasso tempo de que disponho posso também ler o ensaio de Tony Judt, prosa de um cariz infelizmente não abuntante no território pátrio.
We have been here before. In 1905, the young William Beveridge—whose 1942 report would lay the foundations of the British welfare state—delivered a lecture at Oxford in which he asked why it was that political philosophy had been obscured in public debates by classical economics. Beveridge's question applies with equal force today
1 comentário:
O link não dá nada pá!
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