João Luís Duque, um comentador académico de grande prestígio, exibiu ontem elevando nível performático (grande palavra), juntamente como Nuno Crato e Fátima Bonifácio (uma pessoa que oscila perigosamente entre o look freirático e a ambivalência pós-moderna dos relativistas sociais), naquela actividade que representa, neste momento, o desporto nacional da comunidade dos académicos prestigiados com vagas ambições político-mediática: esgalhar com denodo na mediocridade dos alunos portugueses (sejam eles do jardim infantil ou das pós-graduações). Passo por cima de um aspecto que desde logo nos levaria longe (a sensação de que isto não passa da lamúria de profissionais preguiçosos a queixarem-se da dificuldade do seu ofício, que é ensinar, tal como o carpinteiro se pode sempre queixar de que a madeira não tem qualidade, ou o futebolista de que o relvado não se econtrava nas condições adequadas) e passo agora a referir-me à questão que interessa. Na esteira de Medina Carreira, que começa a fazer escola na área do comentário sabujo, ele que nunca originou qualquer corrente de seguidores na área do direito ou das finanças, João Luís Duque contou a história de um concurso para secretária numa empresa de um amigo, em que as 100 candidatas, exceptuando uma, não teriam sabido resolver um problema do género «um armário tem cinco prateleiras e cada prateleira leva sete dossiês, quantos dossiês leva o armário?». A questão não é grave, uma vez que a resposta correcta não poderia ser facultada pelas candidatas, sob pena de sofrerem as represálias inevitáveis, já que a resposta correta, como é sabido, consiste em afirmar «depende de quantos dossiês o chefe quiser que o armário leve», o que mergulhou as infelizes candidatas em tortuosas piruetas lógicas para solionar o dilema moral de forma airosa. Mas João Luís Duque utilizou o exemplo para fazer demonstração da sua sagacidade. «É que isto tem consequências», afirmou com a orgulhosa convicção de quem vai destapar a arca do tesouro. «Num supermercado, para fazer a reposição dos produtos, se a empregada souber fazer a conta, utilizará apenas uma ida ao armazém e trará todos os produtos restantes, tendo em conta a capacidade de armazenamento do espositor do dito supermercado, enquanto que nesta ignorância do cálculo, irá quantas vezes lá dentro? E assim, quantos empregados terá a empresa que contratar para fazerem a reposição, isto face ao tempo disponível para a tarefa?». João Luís Duque é claramente um indivíduo talhado para o prémio nóbel da economia. Não vou comentar agora a descoberta do factor que explica a dessarrumação dos espositores nos hipermercados portugueses mas a abnegação com que faculta a sua consciência para ilustrar uma vez mais a análise de Marx «a história repete-se, primeiro como tragédia (Henrique Medina Carreira) e depois como comédia (João Luís Duque).» Entre cânticos de louvor à ciência, o plano inclinado acabou por perder o concurso da minha atenção no momento em que abri um livro intitulado O templo dourado. Com grande perplexidade notei que este problema mais vasto do significado da ciência se encontra hoje novamente abordado em contornos ligeiramente diferentes, mas que não deixaram de me surpreender, isto mediante a constatação de que alguém como o Maradona perde tempo a comentar posts de Pedro Mexia. sobre Darwin, um poeta que nem poemas sabe escrever e que se espera que venha iluminar a sociologia da prática científica com declarações sobre as ideias políticas dos Vitorianos. Parece que Mexia temia que Darwin fosse um ateu fanático. Mas não, afinal Darwin era agnóstico e Mexia suspirou de alívio, uma vez que se sentiu sossegado na sua condição de crente. Maradona, por sua vez, responde com apologias da ciência (ou não fosse ele um assalariado académico) em torno da pertinência da pergunta que permanece, apesar do desconhecimento do rumo, altruísticamente a saltitar de problema em problema como uma fada de nenúfar em nenúfae. Ou isto resulta de um problema de oscilação nervosa de Maradona ou é o chamado investimento na dimensão mediática do seu blogue. Eu, por mim, pode dizer-se que sou praticante não católico. Aos mais cépticos relativamente à natureza da minha prática, diria que pratico a vida, dando graças a deus por não ser crente. Meus caros leitores, pode dizer-se que uma teoria é prodigiosa (como a de Darwin é) quando consegue explicar até os explicadores do próprio autor da teoria!
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