Um dos exercícios mais conseguidos do panorama mediático português (excluindo-se aqui esse monumento à crítica cinematográfica que responde pelo nome de Tempo Extra, ou os supersónicos comentários de José Tolentino Mendonça ao último livro de Pedro Adão e Silva) consiste em assistir às cambalhotas dos comentadores representativos dessa entidade etno-regionalista que responde pelo nome de Futebol Clube do Porto, na fértil tentativa de explicar as repetidas vitórias dos últimos vinte anos, procurando os referidos comentadores incluir nessas recambulescas cornucópias um conceito repescado à psicologia das profundiades, a estrutura. Não é necessário ter nascido no bairro da Afurada, ou mesmo em Rio Tinto (o meu pai que no ano espectacular de 1958 viveu na rua de Santa Catarina, e trabalhou numa oficina de instalações eléctricas, situada em Vila Nova de Gaia, cujo dono se deslocava de mota sobre a ponte D. Luís e frequentava a viela da Anjo, sabe isto pelo menos desde o dia em que Costa Pereira se tornou no primeiro guarda-redes a colocar em causa princípios de causalidade na Física, quer experimental, quer teórica, o que é o mesmo que dizer com ou sem bola) não é por isso necessário ter nascido em Rio Tinto, no bairro da Afurada ou na pia de lavar o peixe do Mercado do Bulhão, para saber que aquilo que vulgarmente se designa por estrutura, querendo com isto identificar o organigrama empresarial onde pontificam indivíduos dotados da mais singular preparação técnico-táctica na área de intersecção entre as relações sexuais e a arbitragem, não passa de um problema que podia traduzir-se nisto. A verdade é que, independentemente do carácter psicológico inerente aos contactos estabelecidos com prostitutas, ocasionais ou outras, e com todo o respeito pela actividade da prostituição, isto sem pinga de ironia, que o digam as inevitáveis leis da causalidade em Biologia, com ou sem bola, a verdade é que a eficácia da estrutura repousa na possibilidade de condicionar as múltiplas variáveis de uma jogada, recorrentemente resultantes de combinações tão pouco provavéis como a publicação de uma crónica de Vasco Pulido Valente sem a necessária alusão ao facto de que nunca ninguém percebe nada do que Vasco Pulido Valente, generosamente, está a tentar explicar-nos, passando-nos a mão pelo cabelo, estejamos nós a considerar um passe de Guarin, salpicado de maus fados do deserto colombiano, um mau domínio de bola de Hulk, ao que parece um indivíduo nascido numa favela, o que ninguém diria, não fosse a propensão para rematar de meio-campo quando um qualquer jogador envergando a camisola azul e branca se desmarca de forma inequívoca pela ala-direita, ou mesmo o significado da morte de um intelectual francês, que sem cuspir três mil e quarenta e oito vezes no muro de Berlim, ou sequer ter frequentado a Cinemateca com o Pedro Mexia e o Pedro Lomba, escreveu um livro, Tristes Trópicos, que está para o século XX como o teatro de Shakespeare está para uma pastelaria de Vila Franca onde todas as quarta-feiras como uma sandes de frango e uma imperial, um pouco antes de abrir o meu caderno de notas: é dos livros, as grandes coisas são para poucos. Concluindo: a estrutura consiste em ter jogadores, isto é, indivíduos capazes de reduzir as possibilidades de risco inerentes à circulação de bola num rectângulo definido, sem que o adversário possa interceptar a referida bola, antes de ela ser enviada para o fundo das redes. Depois de ter ganho um prémio atribuído por Manuel Machado com o apoio da Junta de Freguesia de Sangalhos, uma pergunta: está tudo bem contigo Maradona?
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