Em primeiro lugar, que diria Francisco José Viegas se tivesse que apresentar um livro cujo tema fosse o comentário técnico-literário a cada um destes prodigiosos criadores do meio intelectual português, fotografados nesta pose masculina, agora que os profissionais do futebol parecem todos nascidos na Quinta da Marinha e até ostentam nomes como Vilas-Boas? É claro que a apresentação desse livro imaginário não poderia ser precedida da interpretação em quarteto de cordas do Nocturno de Borodin, sendo bem mais apropriada a audição do inesquecível tema «O que é que você vai fazer Domingo à tarde» de Nelson Ned. Mas atente o leitor na veracidade telúrica desta equipa, considerando, a título de exemplo, o trio Nené, Humberto Coelho, Toni, antes de voltar a expressar qualquer entusiasmo perante uma cabriolagem de Di Maria ou um espasmo muscular de David Luiz. É que, como diria Herberto Helder, havia aqui «uma essência de oficina», tanto como a energia da «madrugada e a noite triste tocada em trompete», e isso, meus caros, não se repete todos os dias, mesmo se Javi Garcia representa para todos os homens portugueses uma secreta esperança de que o futebol volte a ser o que era, agora que se pretende a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Além de que o comentador hodierno, inspirado pelas influências homossexuais do proto-director desportivo Luís de Freitas Lobo, ao entender o futebol como articulado de pernas depiladas e passos de dança amaricados, esquece frequentemente a máxima de Bela Gutman: o futebol é 50% técina e 50% força, o que só reforça a ideia (se pensarmos que a técnica pode condensar nos seus 50%, outros 25% de destreza - que não deixam de ser uma categoria de força) de que qualquer um destes jogadores, acima representados, poderia esmagar com uma só mão o crâneo de Futre, Juari, Gomes, Domingos Paciência ou Kostadinov, o que explica a ignominiosa debácle do Benfica no final dos anos 80 e a minha definitiva inclinação para os poetas melancólicos.
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