Uma das características fundamentais do sucesso é a capacidade de elaborar textos ou discursos orais, podemos chamar-lhe "formação" por facilidade de comunicação, sem um único conteúdo objectivo. Por outras palavras, não existe sucesso profissional, que é como quem diz que não existem contratos de trabalho com remuneração superior a 1500 euros, que não implique o prévio adestramento nesta superior capacidade de tratar longamente qualquer assunto, entabelando prolongadas cornucópias e piruetas de belo efeito, sem a mais pequena afirmação que possa ser qualificada como uma ideia. Não desconheço as duas objecções (o acordo ortográfico também se aplica nesta palavra ou podemos seguir em frente?) que neste momento avançam sanguineamente pela massa cerebral do estimado leitor: a) o que é uma ideia; b) a ausência de conteúdos é ela própria um conteúdo. A questão não se encontra a um nível de legitimidade discursiva. Pouco me importa que o sucesso profissional possa estar disponível apenas ao sub-grupo dos artistas de variedades. Simplesmente não compreendo como permanecem, sabidas estas insignifcantes realidades, as manifestações de supresa diante da "encrenca em que estamos metidos", para citar um bloguer do estimado campo político do PSD. Veja-se a título de exemplo esta estrondosa demonstração de virtuosismo interpretada por Marcos Perestrello, um homem que, mais segundo menos segundo, trará um pasta ministerial debaixo do braço, e que arranca neste pequeno texto várias deambulações pelo campo da educação, colocando inúmeras bandeiras, onde figuram estampadas questões altamente polémicas - como o papel integrador da escola ou a sua missão de promoção social - para depois finalizar com uma grande conclusão acerca da política educativa: a reparação do parque escolar. Dirão os pragmáticos, serios, profundos e responsáveis, que a melhoria das condições materiais da escola é fundamental. Com efeito, mas essa é uma questão técnica, resolvida pelos gabinetes técnicos da função pública, se os houvesse, cuja submissão a debate eleitoral é um insulto à democracia. Será que terminaremos a discutir com Marcos Perestrello ou com Jorge Coelho que as pontes sobre o Rio Douro devem ser reparadas a fim de não cairem sob o peso de autocarros pejados de velhinhos? De facto, este não foi um bom exemplo. Ouvia um tema de Wagner, o céu estava coberto de um cortina cinza, pelo que, momentaneamente, esqueci o meu local de nascimento. Acontece aos mais patriotas.
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