A discussão dos chamados temas fracturantes encerra algumas das mais delicadas questões da sociedades modernas, o que permite explicar porque razão Ferreira Leite torce as mãos enquanto procura explicar a precedência da organização jurídica da família como base do sistema social. Mas que família? E desde quando? O problema é que o comentário jornalístico se faz ao nível de Inês Serra-Lopes que é como quem diz ao nível da falta de cabelo disfarçada com restaurdador olex. Só quem não estudou história - ou seja, quase toda a gente - é que não está atento às estreitas relações entre os modos de produção (peço desculpa por usar estas palavras obscenas) e a estrutura da família. Quando a economia ocupa o lugar da política, o lucro ocupa o lugar da negociação entre os indivíduos. Não se pode competir e negociar. Ou há mercado ou há soluções para os problemas. Por isso, tem sido recorrente ao longo da história, as contradições no modo de produção gerarem movimentos de desintegração dos sistemas políticos. As revoluções sempre começam por agir como força de pressão redistibrutiva nesta tendência secular da humanidade – acumulação de poucos, não por simples mérito do seu trabalho – como por vezes se argumenta - mas genericamente pela desigualdade das situações de partida. E uma vez adquirida a riqueza, ela gera, no maior número de casos, uma certa insolência, o que me parece património adquirido da humanidade. (desde a tradição judaico-cristã até à cultura greco-romana, passando pelo iluminismo) "E esse povo inconstante que, de afecto, / Só conhece o da bolsa: quem lha esvazia / Enche-lhe o coração de ódio mortal" Ricardo II, (W. Shakespeare). Mas só se enche de ódio, como normalmente só tem voz para fazer ouvir esse ódio, quem tem bolsa para esvaziar.
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