Depois de ter visto o Watchmen este fim de semana e de ler este grande texto do João Lopes (é só mais um na lista infindável que vem escrevendo ao longo dos tempos):
"Na agitação da campanha, não terá adquirido grande evidência uma notícia chocante do mundo do desporto: Nuno Ribeiro, vencedor da Volta a Portugal em Bicicleta, poderá vir a perder o seu título, já que uma análise indica que terá tomado substâncias interditas. Seja qual for a evolução do caso (o atleta solicitou uma contra-análise), a notícia vem reforçar um sentimento difuso de descrença colectiva: a fragilização dos laços sociais e simbólicos tem como espelho cruel uma paisagem mediática que, todos os dias, nos instala numa atitude de suspeita ou irrecuperável desilusão face ao comportamento de indivíduos e instituições.
Escusado será lembrar que a questão da transparência da vida colectiva emerge em muitas frentes dos actuais combates políticos. O que está em jogo é tão fundo e tão complexo que excede o problema (não secundário, como é óbvio) da percepção que temos da honestidade ou desonestidade deste ou daquele político, de um ou outro jornalista. É algo que coloca em jogo todos os factores, desde os legais até aos especificamente afectivos, que contribuem para o funcionamento da comunidade que somos.
Daí o sentimento paradoxal com que, pela minha parte, observo a proliferação de entrevistas aos principais líderes políticos nas televisões, rádios e jornais. Não que essas entrevistas sejam todas iguais. Nem pretendo sugerir que são dispensáveis. Acontece apenas que o espaço simbólico da informação mudou, a ponto de nos fazer ver a cena política como uma variação “séria” sobre o mundo frívolo dos “famosos”. E insisto: isso acontece independentemente das inegáveis qualidades de algumas das entrevistas citadas. Dir-se-ia que precisamos de novos protagonistas para além de políticos e “heróis” de telenovelas. Se possível, agradecemos também ciclistas em que possamos confiar."
estamos de facto à espera de novos heróis
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