Durante todo o dia tentei estabelecer uma conexão lógica entre as declarações sonantes dos vários intervenientes políticos (partidários, recreativos e outros) e a bendita decisão de devolver Manuela Moura Guedes ao anonimato. Para José Pedro Aguiar-Branco (um indivíduo que ninguém sabe quem é) a democracia está de luto, sendo que para mim a democracia está em festa com bombinhas e serpentinas, tapetes vermelhos e tambores, pífaros e bandeirinhas. Alguns ex-directores de jornais, por sinal carecas, procuraram salvaguardar a sua tosta mista entoando elegias à agonia do pluralismo noticioso. Parece que suspender um jornal, que ninguém duvida que é uma merda, por decisão administrativa - ou burocrática como gostam de dizer os comentadores revirando os olhos de brilho naquela invocação mefistofélica do estalinismo - se tornou num horrendo acto de governo, seja ele praticado por decisão pública ou privada. Contudo, devo lembrar, a começar, que as decisões sobre a TVI não pertencem à esfera de discussão pública. É um orgão de comunicação? É. Mas entendamo-nos: se pode criticar-se quem tira também pode criticar-se quem põe. Daí que seja necessário, em segundo lugar, deixar uma pequena, mas longa, pergunta: quando, por decisão administrativa, a administração da TVI sanciona o início de programas merdosos - salto por cima dos exemplos infinitos - ou mesmo a contratação de Manuela Moura Guedes, essa é também uma decisão administrativa que atenta contra a liberdade dos cidadãos? A resposta é, evidentemente, sim. Ou seja, o espaço público está cheio de decisões administrativas, desde a EMEL até à concessão de licenças privadas de televisão destinadas a não passar um único minuto relevante de televisão em séculos de emissão, que restringem a liberdade de pensar, criticar ou sequer imaginar o que é o espaço público. Acontece que, mais uma vez, a direcção da TVI tocou o ponto sensível do poder actual. Tudo pode ser feito, menos proteger a dignidade do debate político. Se Manuela Moura Guedes quer ser crítica de Sócrates que aprenda gramática e teremos todo o gosto em ouvi-la.
2 comentários:
E mai nada!
aleluia aleluia aleluia obrigada obrigada obrigada
(está difícil encontrar testemunhos de bom senso)
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