quarta-feira, 8 de julho de 2009

post em linha recta

Existem campeões da melancolia em cada esquina. Organizam-se e disparam livros contra mim. E eu, emudecido pelo brilho dos flashes, encolho os ombros e reconheço a minha insignificância. Eles respiram o génio, conhecem os labirintos do talento, convivem quotidianamente com os dons da expressão original, rigorosa, certa. São um espelho, uma transparência viva, uma câmara de ampliação, são um corredor iluminado por archotes, uma sala onde a luz se estende e afaga o mobiliário revelando novas perspectivas. Os visitantes agradecem e aplaudem o arquitecto. Os arquitectos, claro está, são eles, os que gostam de livros, e sabem muitas coisas sobre o sacríficio de escrever. Melhor dito, sobre o prazer e a alegria de escrever, ou seria talvez a disciplina de escrever: disciplina interior - uma fonte granítica de onde flui a vida torturada do criador que sabe o que tem a dizer ao grande público. Metódica, cerebral, explosiva, certeiramente, o criador vai revolucionar, já revolucionou, uma outra vez a língua. Inventou a vida, trouxe ao nosso mundo o fantástico universo da ficção. Descreveu situações, sensações, impressões, os contornos das árvores, as cores de uma viagem, os cheiros do Outono, a condição humana, que digo eu, o palpitar da vida na página de um livro. Eu, cada vez mais furiosamente, prefiro Cristiano Ronaldo à literatura, com sua explosão de força, determinação e músculos, a concentração máxima num gesto de que ninguém reterá a mais pequena recordação daqui a apenas duas horas. E o que são duas horas na extensão do universo? Encolho os ombros e sigo o meu caminho.

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