quarta-feira, 15 de julho de 2009

Pedro Pestana Bastos: larápio travestido de historiador, popular travestido de liberal ou apenas um cientista que não sabe nada de história francesa?

Pedro Pestana Bastos, um alegado dirigente do CDS, escreve nesse espaço ilustre que dá pelo nome de o Cachimbo de Magritte mas devia antes chamar-se a cova dos plagiadores que nem sequer detectam uma merda de um brasileirismo mas, concerteza, devem ter cuspido bolas de fogo contra o acordo otrográfico, porque a língua portuguesa e a sua preservação e outras pérolas como esta. O facto é que neste post merdoso, Pedro Pestana Bastos joga lama no ventilador. E lama da grossa. Com efeito, ou o senhor Pedro Pestana Bastos plagiou escandalosamente o seu texto ou deu-se na blogosfera, em blogue tão distinto como o cachimbo do ladrão, perdão, de Magritte, uma fantástica coincidência. Se não vejamos: onde Pedro Pestana Bastos escreve «Para os habitantes das zonas rurais de França, os primeiros meses da revolução representaram a promessa de um mundo mais justo e de uma vida melhor», José Francisco Botelho da Revista Aventuras na História, no site http://historia.abril.com.br/guerra/vendeia-revolucao-revolucao-434168.shtml, escreve «Para os habitantes das zonas rurais, os primeiros meses da Revolução haviam representado a promessa de um mundo mais justo e de uma vida menos árdua.» Bastos continua: « as reformas de 1789 foram dominadas pela burguesia das grandes cidades e a revolução não resolvia os problemas da população rural» e Botelho diz «No entanto, as reformas de 1789 foram dominadas pela burguesia das grandes cidades – e quem mais lucrou com elas foram os proprietários e comerciantes urbanos. “A República não estava resolvendo os problemas imediatos da população rural. Pelo contrário, estava agravando-os”, diz a historiadora Beatriz Franzen, da Universidade do Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul,» uma vez que Botelho cita as suas fontes. Mas Bastos insiste: «Os impostos continuavam a subir e as pessoas continuavam a passar fome. Os camponeses sentiam que a revolução nada lhes tinha trazido de bom.» O problema é que Botelho tinha afirmado «Os impostos continuavam a subir e as pessoas continuavam passando fome. Por isso, os camponeses sentiam que a Revolução os havia deixado de lado.» É então que Pestana Bastos, cansado de vasculhar arquivos bolorentos, redigindo estas magníficas ideias à dolorosa luz das lâmpadas eléctricas, dispara furioso: « Em 1791, o descontentamento político aliou-se à indignação religiosa. Com o intuito de diminuir a influência da Igreja Católica sobre a população rural , o governo decretou que todos os padres deveriam jurar fidelidade à Constituição. Aqueles que se recusassem seriam expulsos das suas igrejas e proibidos de rezar a Missa. A medida foi condenada pelo Papa Pio VI e o governo revolucionário passou a ser inimigo da Igreja. Foi a gota de água, já que nas zonas rurais, a Igreja exercia um papel de assistência social essencial.» Porém, Botelho, que não tem o rigor cronológio do nosso caríssimo plagiador, há muito tinha escrito: «Em 1790, o descontentamento político aliou-se à indignação religiosa. Com o intuito de diminuir a influência da Igreja Católica sobre a população, o governo decretou que todos os padres deveriam jurar fidelidade à Constituição da República. Aqueles que se recusassem seriam expulsos de suas paróquias e proibidos de rezar a missa. A medida foi condenada pelo papa Pio VI e o governo revolucionário passou a ser tachado de inimigo da religião. Para os camponeses da Vendéia, católicos fervorosos, essa foi a gota d’água. “Nas zonas rurais, a Igreja exercia um papel de assistência social”, diz Beatriz (a tal professora já citada) “Quando o estado e a Igreja se desentenderam, o povo sentiu-se abandonado e desprotegido.”» Pedro Pestana Bastos, decide então brilhar arrancando das suas entranhas esta metáfora fulgurante: «Em Paris, a “navalha da República” manchou ruas e praças. Em Nantes, homens, mulheres e crianças foram afogados no rio Loire. Foi nesse clima de intolerância que o governo revolucionário decidiu enfrentar a revolta na Vendeia.“Destruam a Vendeia”, exclamou o deputado republicano Bertrand Bariére de Vieuzac. Este apelo foi levado à letra e em 1 de Agosto de 1793, o governo iniciou aquele que foi o maior extermínio da história das guerras civis com feridas que perduram na sociedade francesa até aos dias de hoje. Em setembro de 1793, o exército republicano atacou a província rebelde. A Vendeia mobilizou-se numa resistência desesperada: agora, o lema dos camponeses era “Vencer ou morrer”. E Botelho, enigmáticamente, havia recebido dos céus a mesma inspiração metafórica: «Em Paris, a “navalha da República” (apelido dado à guilhotina) manchou ruas e praças com o sangue azul dos nobres. Em Nantes, homens, mulheres e crianças foram fuzilados ou afogados no rio Loire. Por todos os lados, o pau comeu. Foi nesse clima de intolerância que o governo revolucionário decidiu enfrentar a revolta na Vendéia. “Destruam a Vendéia”, exclamou num enfurecido discurso diante da Convenção Nacional, o deputado republicano Bertrand Bariére de Vieuzac. Seu apelo foi levado ao pé da letra. “Em 1º de agosto de 1793, o governo decretou a aniquilação da Vendéia”, afirma o historiador François Furet, em seu Dicionário Crítico da Revolução Francesa. “A ordem era de incinerar florestas e casas, derrubar cercas, retirar os animais e transformar a região em um deserto.” Em setembro de 1793, um novo exército republicano atacou com fúria a província rebelde. A Vendéia inteira mobilizou-se numa resistência desesperada: agora, o lema dos camponeses era “Vencer ou morrer”. É escandaloso e degradante que Pedro Pestana Bastos tenha aqui saltado esta rica imagem, dsenhada por Botelho: «por toso os lados, o pau comeu.» Ou o pau, comendo por todos os lados, feriu a delicada suceptibilidade do senhor Pestana Bastos, ou tudo isto não passa de uma bela e meláncólica cornucópia que não envergonharia Magritte. Moral da história: a defesa da propriedade é uma questão muito relativa, quando se trata de fazer funcionar a massa cerebral. Na verdade, compreendemos Pestana Bastos. Seguir a política portuguesa, liderar departamentos do CDS/PP, fazer umas pernadas no pensamento liberal e ainda elaborar sobre história francesa, não é tarefa terrestre que se exija a um colaborador ilustre do Cachimbo, e nem com um mestrado na Católica isto seria exequível, mesmo após ser tocado pelas mãos taumatúrgicas de Roberto Carneiro ou pela saliva de João Carlos Espada. Mais estudo e menos ladroagem.


1 comentário:

José Francisco Botelho disse...

Caro senhor,
Sou o autor do texto aparentemente plagiado por Pestana Bastos. Gostaria de deixar claro que a pérola "por todos os lados, o pau comeu" não é frase de minha lavra. Foi acrescentada a posteriori, pelo editor da revista.
Grato pela atenção,
José Francisco Botelho.