quinta-feira, 9 de julho de 2009

Novas políticas, velhos economistas e moscas, quem sabe, diferentes

À falta de melhor ocupação para o tempo que me resta, antes da corrida verspertina que me conduzirá à marginal, algures entre Algés e o Estoril (serei o indíviduo munido com um gorro de orelhas correndo na direcção contrária à do leitor), decidi comentar um texto do Professor Doutor António Nogueira Leite, ex-Secretário de Estado do Tesouro e Finanças (entre Novembro de 1999 e Agosto 2000) , ex-Administrador executivo da CUF, SGPS, S.A, ex-Administrador (não executivo) da Reditus SGPS, SA, ex-Administrador (não executivo) da Brisa, SA, ex-Administrador (não executivo) da Quimigal, S.A. Como o leitor já terá reparado trata-se de alguém com vastíssimos créditos na praça pública, tendo mesmo conta aberta no mercado da Ribeira onde certa vez, uma peixeira de Olhão lhe terá fiado - cegamente confiada na sua capacidade de prognosticar oscilações económicas - dois pargos e uma solha. A verdade é que Nogueira Leite descreve com propriedade a situação do país num texto intitulado «Plano inclinado». Portugal seria então alguém, ou alguma coisa, que está diante de um plano inclinado. Acontece que o leitor não é elucidado sobre o sentido da inclinação, nem sobre aquilo que Portugal aguarda no final do dito plano, abrindo-se à imaginação toda uma série de conjecturas que incluem indústrias de ponta, carros desportivos, velocímetros, planos de desenvolvimento, temas românrticos interpretados por Tony Carreira, alucinações em torno das conferências de imprensa de Artur Jorge, pouco minutos depois de ter levado duas peras de Sá Pinto, tentativas genealógicas, D. Sebastião em cuecas, os bigodes de D. Afonso Henriques, as ovelhas de Fancisco, Lúcia e Jacinta, os gritos afectados de Michele de Brito e as obras completas de Aníbal Cavaco Silva. Porém, pode o leitor compor a sua gravata e descansar o coração: depreende-se pelo tom pessimista e melancólico do Professor Nogueira Leite que seja um plano descendente sendo coroado no final por um abismo, ou por uma imensa fogueira ou, na pior das hipóteses, por uma cadeira vazia onde Portugal será obrigado a sentar-se e a responder, et in secula seculorum, a uma infinidade de pergunta formuladas por Manuel Luís Goucha. Em todo o caso, Nogueira Leite utiliza conceitos do mais alto refinamento analítico, um autêntico festim conceptual, não fosse o cheiro a bafientas cabeleiras setecentistas emanando, com grande incómodo, de tais expressões: «crescimento anémico» «balança de mercadorias», «descapitalização», «Dívida Pública», «escriturada e não escriturada» são como figuras torturadas que Nogueira Leite obriga dolorosamente a cumprirem o seu papel de explicadores do complexo jogo de trocas que desaba sob os nossos olhos. Acontece que estas figuras cumpriram uma longa carreira, salivando desde a boca de Colbert, Sully, Pombal, Smith, Say, Carvajal, Fontes Pereira de Melo, Wallpole - e deus saberá quem mais - para virem, em pleno sécullo XXI, carregar, extenuadas e esgotadas pelo peso dos séculos, o peso da realidade, escravizadas por economistas, carcomidos pelo caruncho, que procuram tornar a realidade inteligível, perante as nossas cabeças perplexas, utilizando nas suas alquimias pseudo-dedutivas as pobres ideias dos filósofos vetero-românticos, ditos neo-clássicos. Diz Nogueira Leite que as empresas portuguesas não criam produtos diferenciados, conduzindo isto à elevada prevalência de actividades em sectores onde as empresas permanecem pouco diferenciadoras dos seus produtos e onde os custos unitários de trabalho são o principal determinante da competitividade, (o que teria originado) o agravamento relativo dos custos unitários de trabalho, (expondo) ainda mais as debilidades competitivas do tecido produtivo nacional. De facto não criam. Além disso, as determinantes da competitividade podem ir desde a língua falada nos mercados avaliados à eficácia da moca de Rio Maior quando utilizada sobre indígenas com um pensamento constitucional da época do neolítico e liderados políticamente por ex-adminsitradores da Brisa. Sobretudo, penso que a Brisa não será uma empresa capaz de criar vantagem competitiva através de produtos diferenciados, estando ainda por desenvolver a economia da exportação de gestão de auto-estradas nacionais, através do teletransporte. Com efeito, nada percebo desta prosa, nem sei mesmo o que será um tecido produtivo: que sabe não será um entramado de capilaridades (capital, trabalho, instituições) onde caiu uma nódoa de azeite que os economistas se esforçam por eliminar utilizando para o efeito as pedras do rio e os braços cansados das suas avós?

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