A viagem para cá foi diferente. Primeiro no avião vinham tantos portugueses como angolanos. Segundo uma criança decidiu mostrar ao pais e a todos os passageiros a sua relutância a imigrar chorando a noite toda, o que tornou a já minha tentativa de dormir absolutamente impossível. Pelo meio li um clássico do Homero a preparar-me para a odisseia que me esperava.
A chegada foi normal. As palmas de alegria ao tocar no solo. Cá fora abafado. Ao passar pelo controlo de segurança, o primeiro contacto com a realidade daqui. Era necessário preencher um papel de imigração, mas que não existia em lado nenhum. "Não há problema, passa assim mesmo". As vezes somos nós que complicamos a vida. É um facto. Cá fora tenho o meu motorista à espera. Primeiras impressões de Luanda. Pó castanho por todo o lado. O cenário dos musseques, habitações precárias que tapam todo o caminho entre o aeroporto e a cidade. Muita gente na rua. O transito aqui é dinâmico. As regras são adaptadas à medida do condutor e dos carros que passam. Acabamos por nos habituar.
A cidade está em obras. Por todo o lado. Edifícios enormes crescem no meio de outros a cair ou em estado de cair. Há toques de luxo (jipes, lojas) no meio de lixo. O cenário chega a tocar a surrealidade, mas todos parecem viver com isto normalmente.
No fundo o dinheiro é que manda aqui. Quem o tem pode tudo. Quem não tem deseja ter. Falar de politica é proibido. Antes beber cerveja e pensar no Mantorras que é uma espécie de herói. Descobri que o Akwá, essa glória do Alverca agora é deputado. O presidente vive lá no alto no palácio. E cá em baixo o povo vive como pode. Enquanto espero no carro que o transito ande, olho pela janela como num aquário e vejo muita gente. Gente nova na sua maioria. Rapazes que vendem de tudo. Desde chinelos, chocolates a telemoveis. Vejo um cartaz em que se diz que se estão a criar 1 milhão de empregos. Aqui o Sócrates é um menino.
Estou aqui porque a empresa para quem trabalho ganha muito dinheiro com o dinheiro daqui. Como precisam de quase tudo, compram tudo. E todo este crescimento não é sustentado. Há um desequilíbrio enorme na balança. A história é comum a tantos outros países africanos. Alguns tem tudo, e outros nada. E nós estamos a alimentar este sistema. As corporações que invadem a cidade e o país com promessas de desenvolvimento, apenas querem uma coisa: dinheiro e maneiras de ganhar mais. "É a economia de mercado, estúpido", diria-me o Henrique Raposo se tivesse a oportunidade de visitar um local como este. Talvez nem imagina o que isso é. E eu poderia responder-lhe que não há preço que pague a tristeza e a desgraça de um povo às mãos de gananciosos. Esta ideia não me sai da cabeça. Estamos aqui a alimentar o sistema. E eu sou a faca que corta o bolo. Vou acabar por ficar deprimido.
Concordo com o aqui se diz e que Obama relembrou há umas semanas. África só depende de si e da coragem e honestidade dos seus lideres para acabar com o aproveitamento miserável de empresas e grupos económicos dos recursos e dinheiro e da-los a quem de real direito pertence: o povo que vive e suspira por dias melhores.
A chegada foi normal. As palmas de alegria ao tocar no solo. Cá fora abafado. Ao passar pelo controlo de segurança, o primeiro contacto com a realidade daqui. Era necessário preencher um papel de imigração, mas que não existia em lado nenhum. "Não há problema, passa assim mesmo". As vezes somos nós que complicamos a vida. É um facto. Cá fora tenho o meu motorista à espera. Primeiras impressões de Luanda. Pó castanho por todo o lado. O cenário dos musseques, habitações precárias que tapam todo o caminho entre o aeroporto e a cidade. Muita gente na rua. O transito aqui é dinâmico. As regras são adaptadas à medida do condutor e dos carros que passam. Acabamos por nos habituar.
A cidade está em obras. Por todo o lado. Edifícios enormes crescem no meio de outros a cair ou em estado de cair. Há toques de luxo (jipes, lojas) no meio de lixo. O cenário chega a tocar a surrealidade, mas todos parecem viver com isto normalmente.
No fundo o dinheiro é que manda aqui. Quem o tem pode tudo. Quem não tem deseja ter. Falar de politica é proibido. Antes beber cerveja e pensar no Mantorras que é uma espécie de herói. Descobri que o Akwá, essa glória do Alverca agora é deputado. O presidente vive lá no alto no palácio. E cá em baixo o povo vive como pode. Enquanto espero no carro que o transito ande, olho pela janela como num aquário e vejo muita gente. Gente nova na sua maioria. Rapazes que vendem de tudo. Desde chinelos, chocolates a telemoveis. Vejo um cartaz em que se diz que se estão a criar 1 milhão de empregos. Aqui o Sócrates é um menino.
Estou aqui porque a empresa para quem trabalho ganha muito dinheiro com o dinheiro daqui. Como precisam de quase tudo, compram tudo. E todo este crescimento não é sustentado. Há um desequilíbrio enorme na balança. A história é comum a tantos outros países africanos. Alguns tem tudo, e outros nada. E nós estamos a alimentar este sistema. As corporações que invadem a cidade e o país com promessas de desenvolvimento, apenas querem uma coisa: dinheiro e maneiras de ganhar mais. "É a economia de mercado, estúpido", diria-me o Henrique Raposo se tivesse a oportunidade de visitar um local como este. Talvez nem imagina o que isso é. E eu poderia responder-lhe que não há preço que pague a tristeza e a desgraça de um povo às mãos de gananciosos. Esta ideia não me sai da cabeça. Estamos aqui a alimentar o sistema. E eu sou a faca que corta o bolo. Vou acabar por ficar deprimido.
Concordo com o aqui se diz e que Obama relembrou há umas semanas. África só depende de si e da coragem e honestidade dos seus lideres para acabar com o aproveitamento miserável de empresas e grupos económicos dos recursos e dinheiro e da-los a quem de real direito pertence: o povo que vive e suspira por dias melhores.
1 comentário:
O silêncio é por vezes estrondoso. A quem sempre nos diz que somos todos iguais e que os partidos são todos iguais e que os políticos são todos iguais, basta olhar a realidade: uma coisa é soltar o pensamento a partir de um cadeirão em Lisboa, outra bem diferente é ser in loco um factor consciente.
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