segunda-feira, 1 de junho de 2009

Com todo o respeito, existe aqui um claríssimo problema de integração social com especial referência ao sexo feminino

A leitura foi uma paixão ardente que se manifestou mal cheguei à escola. Paguei-a com a precoce condenação ao estatuto de caixa-de-óculos. A partir daí, foi sempre a descer: mau de bola, muito acne, dentes salientes e separados, boas notas… o cocktail ideal para uma adolescência miserável.
Acabei por não ter direito à tal adolescência miserável que me esperava, porque aos doze anos embarquei à descoberta da Europa. Fiquei-me por uma adolescência deprimente, à sombra das nuvens de Bruxelas. Na Escola Europeia, liceu multi-nacional por excelência, fiz-me razoavelmente poliglota… e ardentemente patriota. O que não me impediu de namorar uma francesa com lenço Hermès ao pescoço.
Ultrapassado o acne e alinhada a dentição, fui em busca de um mundo onde as boas notas e a inépcia desportiva não fossem motivo de ostracismo. Encontrei Paris. Era para passar três anos: fiquei quase dez. Estudei ciências políticas e gestão de empresas; fui consultor, vendedor e professor; vagueei muito, namorei q.b. Bem, nunca se namora q.b.
Vasco Campilho, Na secção do seu Blog intitulada: Sobre Mim
Campilho, tenha calma. Chege-se aqui um pouco, pouse o casaco, largue a mala, tire a gravata. Descanse. Você precisa de sair um pouco, largar os livros, morder sardinhas em azeite, engolir dois litros de vinho de Palmela, relativizar essa memória turbulenta de português borbulhado, de maxilares coroados por dentes tortos. Não ligue às sovas da rapaziada de Bruxelas, ninguém lhe leva a mal a inaptidão para o futebol, mesmo no momento áureo da selecção de Jean-Marie Pfaff (para que conste, 4ª classificada no México 86). Em suma, essa cavalgada em defesa do Presidente da União Europeia é uma revisitação de maus dias adolescentes, quando a rapariga mais popular do liceu lhe atirava, com o seu lânguido olhar de medusa, o desprezo de uma rainha francesa do grande império. Sossegue Campilho. Beba um gole de água, esqueça essas mágoas e sirva o seu país: como refere, foi esse o grande desígnio que o trouxe de volta a Portugal. Enterre as suas memórias no canto mais longínquo do seu jardim, juntamente com a má prosa que tem produzido, e inaugure uma nova vida, já liberta do trauma hormonal, já repleta de bons sentimentos patrióticos e muitos insultos ao bilioso nervosismo dos esquerdalhos. A eles Campilho, a eles, pois eles nunca saberão o que é ser gozado em francês.

Sem comentários: