As nossas sociedades não toleram a existência de Deus ou de qualquer noção de Ética transcendente. Cristo e Kant encostaram às boxes. Henrique Raposo, no Expresso
Dizem que em tempos de crise as pessoas correm a ouvir sobre finanças. Melhor é impossível: próximo Sábado o Henrique Raposo e o Luís Aguiar Santos estarão na Igreja Baptista de S. Domingos de Benfica às 19h a falar sobre "Os Cristãos e o Dinheiro". Evento de mão cheia. Publicado por Tiago Cavaco no Blog Voz no Deserto
Não há como uma aproximação intelectual à pista da aterragem religiosa para surpreender um liberal. No fundo, não acreditam na livre circulação de mercadorias ou na autonomia dos mercados. Não defendem a concorrência da gestão eficiente, lutando pela reducção de custos como o macaco luta pela sua banana. Não sustentam o livre curso da iniciativa, o explendor do empreendorismo. São singelos agnósticos, zangados com a hipocondria do mundo que os condena as saladas e parceiro sexual único. Apenas escolheram contrariar o bom senso que implicaria toda a planificação económica a fim de assinar uma Coluna no Expresso. Antes de recomendar vacina anti-fúngica aos baptistas de S. Domingos de Benfica - incluindo cafés e restaurantes da Pontinha a Telheiras - devo lembrar aos senhores doutores que «A imanência do corpo passou a ser o único templo possível», na afirmação de Raposo, porque o corpo é verdadeiramente o actor-consumidor desse grande paradigma escatológico que dá pelo nome de sociedade aberta, onde os médicos planificam uma bio-política a fim de responder às solicitações produtivas totalmente não-planificadas e abundantemente libertadoras da economia de mercado. Na hora da missa e do insenso, como na cova do lobo, a pobreza é sempre mais verdadeira, o manto diáfano da sagacidade é sempre mais escorregadio nas suas funcionalidades mistificadoras. Badalam os sinos, confundem-se as ideias na mente. Na mesma proporção em que se misturam as bolas na roda da lotaria. Soam os cifrões, arriscam-se os cupões, perde-se o tino, insulta-se o destino e entope-se, quantas vezes, o intestino como teorias sobre a imanência do corpo e mão do dinheiro, tudo isto embebido em literatura duvidosa encomendada na Amazon, através das revistas da ciência política. Como nós os compreendemos. Raposo, compra um livro em português, põe um disco de Nelson Ned, entra numa pastelaria da Brandoa, encomenda uma imperial, uma chamuça, e contempla demoradamente o rasto de luz, que deixa pelo céu desta noite em que vivemos, as tuas resplandecentes ideias sobre o mundo. Depois, envia-nos um sinal para que o nosso quotidiano não permaneça arredado dos caminhos da verdade. Ou isto, ou qualquer coisa que inclua as orelhas da Ana Drago e o sorriso neolítico do Rui Ramos.
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