sábado, 9 de maio de 2009

Seremos inevitavelmente pobres se continuarmos a ser irremediavelmente estúpidos

Já por diversas vezes o leitor terá notado que me anima uma certa respeitabilidade por duas figuras fundamentais do nosso tempo. Ambas as personalidades têm sido cotadas com o máximo da reverência mediática, nessa bolsa dos valores político-paroquiais, ultimamente sintetizados pelo conceito «credibilidade»: falo, indiscutivelmente, dos Professores Aníbal Cavaco Silva e Medina Carreira. Não só os une a categoria professoral como, também, o facto de terem servido - e continuarem a servir - a pública causa do governo democrático. Além disso, o Professor Medina Carreira distingue-se particularmente na crítica severa dos vício com que a pátria resiste - capciosa - ao glorioso caminho do enriquecimento económico. Acresce ainda, no seu brilhante currículo, o brilhantismo com que cuidou das finanças da república, como pintor impressionista cuidava da sua tela numa paisagem nublada da Bretanha, enquanto as mademoiselles iam, de saia arregaçada, salpicar as alvas coxas no mar instável e frio que vinha balouçando das bravas terras do norte. Nós, eternas, mademoiselles da República, contemplamos tambémo, e continuadamente, o zelo com que o Professor Carreira preparou os caminhos do Professor Aníbal até à Presidência, zurzindo - num famoso chiste - a inutilidade dos versos de Camões para pagar a Funcionários Públicos. Com efeito, caro leitor, com efeito. Mas que podemos nós fazer deste país que tem como património altos índices de matéria-prima, riqueza natural em quantidades babilónicas e produção industrial de fazer inveja à Inglaterra oitocentista? Nada a não ser lançar para bem longe a porcaria dos 800 anos de história e de cultura que trazemos atados à cintura. Nada, a não ser arregaçar as mangas e escutar, como marinheiro que larga o lastro do barco em plena tempestade, com serenidade, as soluções salvíficas apresentadas pela experiência professoral dos nossos respeitáveis economistas.
E nada de retórica europeia. Porque a retórica, de natureza duvidosa e estéril, essa actividade de preguiçosos e caixas de supermercado iletradas, apenas nos pode conduzir «a suportar a opinião dos outros, os pontos de vista alheios, sentindo um certo prazer na contradição e aprendendo a escutar de tão bom grado como quando nós próprios falamos», lições que são de uma completa ineficiência fabril. Alías, estas descrições deste mal que nos assola, pertenceram, outrora, a um outro inútil retórico, Frederico Nietzsche, pensamentos alinhados segundo a lição de Kant, este último um autêntico hino vivo à perda de tempo, (consta que não sabia multiplicar as arestas de um grade de cerveja a fim de achar a totalidade das garrafas, filósofo cuja obra, mesmo anexa a um cabaz repleto de coca-colas e computadores Magalhães, não chegaria sequer para pagar meio subsídio de férias de um funcionário público: mesmo que as férias fossem numa reloutte da Caparica e as refeições encomendadas ao Barbas em dia de vitória europeia do Benfica.

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