quarta-feira, 27 de maio de 2009

Marinho Pinto

Um ano depois de uma campanha eleitoral marcada por opiniões reveladoras de um corporativismo exacerbado, Marinho Pinto começa a revelar-se um bom bastonário.

Em todas as estruturas organizadas, os líderes devem ter capacidade e coragem para criticar os seus pares. Marinho Pinto sempre revelara estas qualidades e agora começa a intervir nas áreas e com o tom que mais o favorecem. Não parece ser um jurista brilhante e preocupado com soluções de fundo para a justiça, mas tem características muito positivas para um líder de uma ordem profissional, em especial no mundo dos advogados.

Utiliza uma linguagem que as pessoas compreendem, intervém publicamente sobre temas relevantes, tem um discurso directo e honesto (tendo como referência as suas ideias) e não tem problema em criticar os actos de todos aqueles que entende serem merecedores de censura, incluindo os próprios advogados.

É muito importante ouvir o bastonário da Ordem dos Advogados dizer que há advogados que estão envolvidos na prática de crimes. A novidade não é o conteúdo da mensagem, que é de conhecimento geral, mas a sua discussão pública.

Os jornalistas têm um papel muito importante (talvez decisivo) na luta pela actuação responsável e ética dos nossos líderes (por exemplo, no processo Apito Dourado, o seu silêncio concertado foi comprometedor). Manuela Moura Guedes é o exemplo de um jornalista que, tal como aqueles advogados a que Marinho Pinto se refere, não pode continuar a exercer a profissão que exerce.

1 comentário:

alf disse...

Com efeito, este é o primeiro bastonário que não permite o esvaziamento da relação entre os advogados e o Estado de direito, sendo que é também o primeiro que tem um entendimento do Estado de Direito historicamente informado, isto é, uma concepção do papel da justiça nas suas diversas complexidades. Claro que os senhores do século XIX têm dificuldade em conviver com materialistas e puxam da sua sebenta do código civil que diz: gajos que falem em povo são populistas, logo devem ser postos na alheta. Eis uma explicação para a gritaria que cicula em torno de Marinho Pinto: o gajo não almoça nos restaurantes do Júdice.