O estado do Estado: ora aí está uma peça de reflexão que o leitor não pode perder. Pode eventualmente custar-lhe a vida? Pode! Mas vale bem uma gripe de tipo A, ou, digamos, vá lá, uma varicela. A verdade é que Paulo Rangel, depois de ter sido atingido na cabeça por uma palete de armazém repleta de livros jurídicos, resolveu partilhar, com a plebe ignorante desta república, as suas ideias sobre o Estado. E que ideias são essas? São ideias originais, percorridas pela seiva da tribuna antiga e da oratória portuense. Nem Camilo, debaixo de um freixo, e tendo uma rechonchuda minhota de carnes alvas no seu raio de visão, lograria tornear, com tal destreza, a língua portuguesa. Na apresentação do livro é comunicado, ao leitor mais desprevenido, que o grande mérito de Rangel, além de ilustrado professor de Direito, foi ter forjado para nosso uso, e santa protecção, o conceito de «claustrofobia democrática». Nada mais será necessário como recomendação e se dúvidas permanecem no espírito do leitor, como indesejadas nuvens cinza num majestosamente azulado céu de verão, atente-se, logo na segunda página, na forma como Rangel manuseia um outro conceito, de inegável utilidade política: o determinismo económico» de carácter «marxiano». Com efeito, é esclarecida a mão que nos conduz.
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