É verdade que o excessivo tamanho dos textos reduz a sua temperatura (como diria um poeta amigo). Mas talvez exista uma certa dose de derrota nesta constatação. A nossa civilização é já a da imagem. Julgamos que vemos coisas. Quantos metros de texto gastamos por dia no ecrã. É verdade que a intensidade não se vende a metro e cada um deve "administrar a sua tristeza sabiamente". Estava mesmo agora a administrar a minha vendo uma deputada do CDS a referir em tom estoril-à-lapa que os ordenados dos gestores são escolhas privadas do foro privado: "são o resultado da oferta e da procura". Talvez quem procure encontre sempre estas e outras intensidades. A intensidade...belo problema para entrar a ler, deitado sobre a relva, na espuma da eternidade. Como um poeta castelhano Manrique, famoso por uns versos à morte do seu pai
"cómo se pasa la vida
cómo se viene la muerte tan callando
cuán presto se va el placer
cómo, después de acordado, da dolor;
cómo, a nuestro parecer
cualquiera tiempo pasadofue mejor"
Como homem do século XV, a sua vida fez-se também da guerra. Numa dessas batalhas, em Uclés, defronte do castelo de Garcí Muñoz, foi ferido mortalmente. Nesse mesmo local lhe deram sepultura. Manrique sabia que toda a estética é uma economia da oferta e da procura. Sabia também que todo o tempo passado é melhor tempo. Quer pela intensidade das coisas que passam, quer pela forma com que se despedem de nós todas essas coisas ao passar. Escreveu umas coplas à morte do pai, extensas e demoradas, uma pirueta sobre a sua dor de já não ter pai, ou já não ter tempo, ou ser já tempo de cantar a morte das coisas demoradas.
Talvez a vida seja uma mera questão de intensidade e o tempo não chegue para medir com que intensão circula em nós a vida
"cómo se pasa la vida
cómo se viene la muerte tan callando
cuán presto se va el placer
cómo, después de acordado, da dolor;
cómo, a nuestro parecer
cualquiera tiempo pasadofue mejor"
Como homem do século XV, a sua vida fez-se também da guerra. Numa dessas batalhas, em Uclés, defronte do castelo de Garcí Muñoz, foi ferido mortalmente. Nesse mesmo local lhe deram sepultura. Manrique sabia que toda a estética é uma economia da oferta e da procura. Sabia também que todo o tempo passado é melhor tempo. Quer pela intensidade das coisas que passam, quer pela forma com que se despedem de nós todas essas coisas ao passar. Escreveu umas coplas à morte do pai, extensas e demoradas, uma pirueta sobre a sua dor de já não ter pai, ou já não ter tempo, ou ser já tempo de cantar a morte das coisas demoradas.
Talvez a vida seja uma mera questão de intensidade e o tempo não chegue para medir com que intensão circula em nós a vida
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