O caro leitor já terá reparado que há em mim uma certa obsessão com Ruy Belo. Não sei descrever de que forma a palavra se agarrou ao corpo mas não terá sido alheia a essa situação a inexplicável forma como o vento, os plátanos, o ronco do farol persistem neste território. “Não vazes tantas vezes a tua voz rente ao vento”… É que nem sempre o vento se harmoniza com a voz e acontece que os plátanos se entristecem numa permanente queda outonal. O vento sopra por vezes a caminho de Vila do Conde, a diligência serpenteia pela serra e há ainda, todos o sabemos, a estrada da beira onde o poeta tísico regressa todos os anos para morrer junto do mar. “Há é gente que acerta, gente que erra”; pessoas que fazem pela vida outras que deixam que a vida faça nelas variadas construções de sentido: um berlinde, uma gaivota num céu de cinza, uma vereda pedregosa no flanco da serra.
Os textos que tenho vindo a colocar no blog podem por vezes sugerir uma contundência excessiva. Pode ser que sim. Talvez todos ganhassem com mais opinião e menos argumentação: textos mais curtos, menos maçudos, mais humor e menos crítica do pensamento. Quem sou eu para pronunciar juízos? Ora aí está o tipo de pergunta que não devia ocorrer num blog que se quer respeitável. Que me fizeram os ilustres cronistas para merecer tão biliosa prosa? Ora aí está o tipo de interrogação a responder a todo o custo. Porém, nunca tive jeito para responder a perguntas. Mesmo na primária, que é onde se determina o valor do cheque da reforma, à pergunta do professor apenas estalinhos nervosos, tremores, uma humidade esquisita nas maõs, qualquer coisa como o difícil equilíbrio dos flamingos, uma oscilação estranha, uma antena no telhado em dia de vento. Perguntas? Lembro especialmente uma formulada na Margem da Alegria: “Quem viu o meu falcão moços do monte?”. Esta e outras aves de rapina deixaram-nos sós a entender a direcção do vento. Talvez que a Ermida, apesar dos textos do Blog não vincularem a sua posição institucional, não devesse acolher a crítica efectiva das situações reais, nem estas formas do vento ser cruel com a direcção das coisas. Talvez devesse antes voltar para o silêncio televisivo onde vamos todos embalados a caminho da catástrofe. Exagero?
“Eu sei. Tu tens razão. Eu realmente”.
Os textos que tenho vindo a colocar no blog podem por vezes sugerir uma contundência excessiva. Pode ser que sim. Talvez todos ganhassem com mais opinião e menos argumentação: textos mais curtos, menos maçudos, mais humor e menos crítica do pensamento. Quem sou eu para pronunciar juízos? Ora aí está o tipo de pergunta que não devia ocorrer num blog que se quer respeitável. Que me fizeram os ilustres cronistas para merecer tão biliosa prosa? Ora aí está o tipo de interrogação a responder a todo o custo. Porém, nunca tive jeito para responder a perguntas. Mesmo na primária, que é onde se determina o valor do cheque da reforma, à pergunta do professor apenas estalinhos nervosos, tremores, uma humidade esquisita nas maõs, qualquer coisa como o difícil equilíbrio dos flamingos, uma oscilação estranha, uma antena no telhado em dia de vento. Perguntas? Lembro especialmente uma formulada na Margem da Alegria: “Quem viu o meu falcão moços do monte?”. Esta e outras aves de rapina deixaram-nos sós a entender a direcção do vento. Talvez que a Ermida, apesar dos textos do Blog não vincularem a sua posição institucional, não devesse acolher a crítica efectiva das situações reais, nem estas formas do vento ser cruel com a direcção das coisas. Talvez devesse antes voltar para o silêncio televisivo onde vamos todos embalados a caminho da catástrofe. Exagero?
“Eu sei. Tu tens razão. Eu realmente”.
2 comentários:
A semana passada, descobri o vosso blogue através doutro e agora tenho-o com leitura obrigtória.
Parabéns!
Um gajo estar "vidrado" em Ruy Belo, julgo que é um direito humano; eu, por exemplo, estou "vidrado" em Camilo Pessanha, um poeta menor quando comparado com Ruy Belo e, no entanto, ai de quem contestar a minha opção...
Vamos à autocrítica. Quem sou eu? Eu, tu, el@, nós, vós, el@s... Não é por aí que o gato vai às filhós...
Contundência? Quanto mais, melhor; mas aí está, o tamanho dos textos diminui-lhe a densidade.
Mas gostaria de ver propostas concretas no sentido da contra-situação. Já sabemos que a situação está podre; que fazer?
Vitor Correia (o google passou-se, e eu não tenho pachorra...
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