In Expresso 25.08.2007
Jornalista: Carla Tomás
Abandonado durante décadas, o terreno entre Caxias e o Jamor prepara-se para receber três torres de apartamentos, um hotel de cinco estrelas e um pavilhão multiusos.
“Obviamente que isto é para gente rica”, exclama o presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Isaltino Morais, defendendo o mega empreendimento projectado para o Alto da Boa ViagemDesignado pelo autarca como “de alta qualidade” e “estratégico” para o concelho, o projecto foi aprovado por unanimidade pela Câmara, em Maio. Porém, não faltam vozes críticas entre os populares locais, que chamam a atenção para a sua “enormidade” e para os problemas de mobilidade nas já congestionadas A5 e Marginal.
“Não me parece razoável recorrer a terrenos do Estádio Nacional para estacionamento e para fazer rotundas de saída para a A5”, critica Vale Henriques, membro do movimento Salvem Caxias, criado para lutar contra a construção da cidade judiciária e vencedor dessa batalha.
A ideia é reforçada por Jane Carvalho, representante do Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal de Oeiras, que lembra que “os lugares dimensionados são muito inferiores aos necessários” e que diz não perceber como se vai utilizar o estacionamento do Jamor “do outro lado da via rápida”. A deputada bloquista acrescenta que “enquanto não houver um estudo de mobilidade sério, um projecto destes não deve ir para a frente”. E recorda que existe no processo um parecer dos serviços da própria Câmara a alertar para os problemas de tráfego.
Na mesma linha, o especialista em transportes Carlos Gaivoto salienta que “faltam estudos de tráfego” e que este empreendimento não tem em conta as indicações do Plano Regional de Ordenamento do Território que aconselha a contenção urbana na Área Metropolitana. “Em vez disso densifica a área de transição entre Oeiras e Lisboa".
O terreno em causa “devia ser de transição para proteger a zona verde do Estádio Nacional”, concebida nos anos 40 pelo paisagista Caldeira Cabral, defende o seu filho João, que participou na equipa que elaborou um conjunto de medidas de protecção do Complexo do Jamor, nos anos 80, nunca aprovadas. E por isso alerta: “O Estádio Nacional precisa de áreas de expansão para o estacionamento e não de sobrecarga. É necessário proteger a mata que o envolve, e a construção maciça deste empreendimento tem o efeito contrário”. E conclui: “Não se devia descurar a protecção visual daquela zona nem o valor paisagístico da Costa do Sol construindo torres de 19 andares”.
Estes alertas, porém, não preocupam o presidente da Câmara, que diz desconhecer as críticas. Isaltino Morais afirma que a ideia de passar na marginal e observar as torres lhe “agrada” e que o que interessa é que “aquele vai ser um espaço de grande qualidade, do melhor que se vai fazer na Área Metropolitana de Lisboa (AML)”. Além disso, sublinha: “Vai ao encontro da nossa aposta no desenvolvimento estratégico no terciário”, porque metade do empreendimento é para serviços e escritórios. “Estamos a trabalhar no conceito de «Oeiras Valley»”.
Quanto aos problemas de mobilidade, Isaltino defende que “não há na AML concelho com melhor mobilidade que o de Oeiras” e que o estudo de tráfego estará concluído até ao final do ano. Quanto ao arranjos necessários em termos de vias de tráfego “são da responsabilidade do promotor”. E se há muito uso do automóvel e escassa oferta de transportes públicos, o autarca escuda-se: “Não temos competência em transportes”.
Pegando nas últimas palavras, creio que não temos competência em muitas outras coisas. Fico com a ideia de que o Sr. Isaltino nunca foi para Lisboa de manhã via Marginal ou até mesmo pela A5. Já há caos que chegue. Além de que mais uma vez se perde a oportunidade de recuperar convenientemente uma das últimas grandes áreas verdes da AML. Enfim venham mais carros e mais confusão. Os ricos não se importam. E o povo não reclama, desde que haja Tony Carreira e afins no pavilhão multi-usos do Sr. Tomás Taveira.
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