Quando se procuram coisas no baú descobrem-se preciosidades :
“A arte da politica sabese muito tarde, e quando se vem a entender, mal se pode exercitar: aprendesse na adolescencia, e sabese na velhice: em quanto ha vigor, não ha doutrina; quando ha conhecimento, não ha forças; e por isso contão as Historias tão poucos Politicos consumados” in Elogio fúnebre de um Secretário de Estado da Coroa de Portugal em 1736. Ou por vezes corre-se o risco de encher o nariz de pó, dar uma cabeçada na trave do sotão. Pode ser também que tudo se esqueça, « tudo esquece tão cedo », não é, caro Virgílio ?
Parece que recentemente o Sr. Presidente consagrou algumas da suas seráficas palavras à educação. Entre outras magníficas metáforas considerou que ela (a educação, claro) não poder ser uma « fábrica de ensino » onde os pais vão depositar os filhos. Talvez deva antes ser uma gasolineira. Onde podemos abastecer com sucesso rumo à inovação social. Imaginemos então como poderia Portugal ter disparado rumo ao desenvolvimento, direito à vitória sobre os « desafios da globalização », formando, de forma rigorosa, globalizante, com excelência, os milhões de portugueses, ontem analfabetos, para usufruir delícias eternas em vivendas algarvias ; tudo isto se a competente liderança do Sr. Presidente tivesse estado ao serviço de um governo durante para aí, digamos, dez anos.
« E então chegaram Diamantino Durão, Couto dos Santos e Manuela Ferreira Leite e remendaram o que puderam, facilitaram tudo o que foi possível facilitar e começaram a cortar onde poderiam poupar. Não é por acaso que o segundo mandato maioritário de Cavaco Silva tem 3 e não 1 ministro e não é também por acaso que é do início dos anos 90 que datam a definição de uma nova organização curricular e novos programas (tudo de 1991) e, em especial, de um novo regime de avaliação cristalizado no Despacho Normativo 98-A/92 de 20 de Junho que foi a machadada final em qualquer reforma educativa a sério que pretendesse basear-se em qualquer noção de rigor e qualidade das aprendizagens. É o primeiro alvor dos eduqueses ou maus cientistas da educação, os verborreicos e vácuos, gongóricos na retórica, curtinhos na substância, que se distinguem facilmente dos Cientistas da Educação com Maiúsculas » in A Educação do meu Umbigo Gaveta aberta de textos e memórias a pretexto da Educação que vamos tendo
Lembro-me que em 1991 tive a primeira sensação de desistência, numa tarde em que só, caminhando pela estrada de alcatrão que ligava a quinta do Marquês de Pombal a Porto Salvo, junto ao Colégio das Freiras, avistei a construção da nova auto-estrada Lisboa-Cascais. A nova via cortava o vale onde perto passava a ribeira da Lage e perdia-se na linha castanha daquelas terras repletas de trigo que um dia ouvi chamar a Ribeiro Teles os « extraordinariamente importantes barros de Oeiras ». Não sei porque raio alguém chamaria a um conjunto de terras « uma coisa importante » mas não deixei de perceber na voz do já velho arquitecto a mesma destreza com que o meu avô seguia pela horta pesando com as mãos a terra.
Nessa tarde, fiquei alguns minutos a olhar a fina corda de alcatrão desenrolada ao sol como uma víbora preguiçosa. Quando cheguei a casa, nessa tarde, havia bandeiras cor de laranja. Um homenzinho magro, de nome Silva e voz irritantemente rouca, saltava na televisão, com dois dedos erguidos. Ou talvez não saltasse e fosse apenas o movimento absurdo da multidão que, saltando ao seu redor, me enjoava por dentro.
Em minha casa nunca houve grandes convicções partidárias e talvez por isso o entusiasmo eleitoral estivesse sempre misturado com a distância de quem vê, descrente da eficácia da guerra, passar mais um General em triunfo a caminho de Roma.
Havia interesse, mas não alegria. Havia atenção mas não esperança. Havia conhecimento mas não vigor. Havia doutrina mas muito poucas forças para entender porque se erguiam aqueles braços se os barros e o trigo desapareciam como uma vertigem, à medida que as mudanças na constituição travavam a promessa da paz, pão e liberdade que saía estridente dos altifalantes do Sr. Silva, sob uma promessa de chegarmos todos mais depressa a lado nenhum.
“A arte da politica sabese muito tarde, e quando se vem a entender, mal se pode exercitar: aprendesse na adolescencia, e sabese na velhice: em quanto ha vigor, não ha doutrina; quando ha conhecimento, não ha forças; e por isso contão as Historias tão poucos Politicos consumados” in Elogio fúnebre de um Secretário de Estado da Coroa de Portugal em 1736. Ou por vezes corre-se o risco de encher o nariz de pó, dar uma cabeçada na trave do sotão. Pode ser também que tudo se esqueça, « tudo esquece tão cedo », não é, caro Virgílio ?
Parece que recentemente o Sr. Presidente consagrou algumas da suas seráficas palavras à educação. Entre outras magníficas metáforas considerou que ela (a educação, claro) não poder ser uma « fábrica de ensino » onde os pais vão depositar os filhos. Talvez deva antes ser uma gasolineira. Onde podemos abastecer com sucesso rumo à inovação social. Imaginemos então como poderia Portugal ter disparado rumo ao desenvolvimento, direito à vitória sobre os « desafios da globalização », formando, de forma rigorosa, globalizante, com excelência, os milhões de portugueses, ontem analfabetos, para usufruir delícias eternas em vivendas algarvias ; tudo isto se a competente liderança do Sr. Presidente tivesse estado ao serviço de um governo durante para aí, digamos, dez anos.
« E então chegaram Diamantino Durão, Couto dos Santos e Manuela Ferreira Leite e remendaram o que puderam, facilitaram tudo o que foi possível facilitar e começaram a cortar onde poderiam poupar. Não é por acaso que o segundo mandato maioritário de Cavaco Silva tem 3 e não 1 ministro e não é também por acaso que é do início dos anos 90 que datam a definição de uma nova organização curricular e novos programas (tudo de 1991) e, em especial, de um novo regime de avaliação cristalizado no Despacho Normativo 98-A/92 de 20 de Junho que foi a machadada final em qualquer reforma educativa a sério que pretendesse basear-se em qualquer noção de rigor e qualidade das aprendizagens. É o primeiro alvor dos eduqueses ou maus cientistas da educação, os verborreicos e vácuos, gongóricos na retórica, curtinhos na substância, que se distinguem facilmente dos Cientistas da Educação com Maiúsculas » in A Educação do meu Umbigo Gaveta aberta de textos e memórias a pretexto da Educação que vamos tendo
Lembro-me que em 1991 tive a primeira sensação de desistência, numa tarde em que só, caminhando pela estrada de alcatrão que ligava a quinta do Marquês de Pombal a Porto Salvo, junto ao Colégio das Freiras, avistei a construção da nova auto-estrada Lisboa-Cascais. A nova via cortava o vale onde perto passava a ribeira da Lage e perdia-se na linha castanha daquelas terras repletas de trigo que um dia ouvi chamar a Ribeiro Teles os « extraordinariamente importantes barros de Oeiras ». Não sei porque raio alguém chamaria a um conjunto de terras « uma coisa importante » mas não deixei de perceber na voz do já velho arquitecto a mesma destreza com que o meu avô seguia pela horta pesando com as mãos a terra.
Nessa tarde, fiquei alguns minutos a olhar a fina corda de alcatrão desenrolada ao sol como uma víbora preguiçosa. Quando cheguei a casa, nessa tarde, havia bandeiras cor de laranja. Um homenzinho magro, de nome Silva e voz irritantemente rouca, saltava na televisão, com dois dedos erguidos. Ou talvez não saltasse e fosse apenas o movimento absurdo da multidão que, saltando ao seu redor, me enjoava por dentro.
Em minha casa nunca houve grandes convicções partidárias e talvez por isso o entusiasmo eleitoral estivesse sempre misturado com a distância de quem vê, descrente da eficácia da guerra, passar mais um General em triunfo a caminho de Roma.
Havia interesse, mas não alegria. Havia atenção mas não esperança. Havia conhecimento mas não vigor. Havia doutrina mas muito poucas forças para entender porque se erguiam aqueles braços se os barros e o trigo desapareciam como uma vertigem, à medida que as mudanças na constituição travavam a promessa da paz, pão e liberdade que saía estridente dos altifalantes do Sr. Silva, sob uma promessa de chegarmos todos mais depressa a lado nenhum.
À noite pensei sobre o pouco que o país tinha para oferecer às suas crianças da periferia e desejei que, sendo assim, ao menos tu Veloso não podias ter falhado aquele penalty.
1 comentário:
Pois é, é muito fácil para os governantes dizerem o que querem, mas trabalhar para melhorar as coisas tá quieto. São sempre os primeiros a saltar contra a corrupção, mas depois são eles que corrompem. Também neste assunto da educação são os que mais culpas têm no cartório que mais estrebucham. Vamos ver o que vai dizer esta ministra e este governo daqui a dez anos ou assim. Quem se trama sempre no meio disto tudo são os alunos e professores, que fazem o que podem enquanto os senhores do ministério inventam parvoíces como as "competências" e afins.
Enquanto não houver uma escola pública exigente o país não pode evoluir, pois sem pessoas instruídas e atentas ao mundo um país não pode nunca evoluir.
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