quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Atenção! Achtung! Danger! Peligro! Crónica no Diário de notícias pode provocar perda de consciência

O Magister César das Neves previu esta semana o futuro no Diário de Notícias. É uma previsão de antologia, devo dizer. Apenas para aguçar o espírito, vendo como se espalha classe e profundo saber, tomem lá com dois dardos da autoria do robusto braço do Magister:

(esclareço os leitores mais sensíveis que a previsão se faz num ilustrado exercício de ironia de fazer corar o Eça de Queiróz, pelo que podemos ficar de tal modo abalados pelas estocadas certeiras do Magister que logo nascerá, sem mais, um flagrante apelo à conversão à moda dos pré-socráticos, sem maiêutica nem interrogações, é logo direito à santidade)

“Muito significativo foi que, duas semanas depois, (algumas linhas antes o Magister tinha previsto que a União Europeia ia dedicar-se à erradicação da violência familiar por todas formas até nas brincadeiras, sugestão que não percebi totalmente, dada a minha lamentável impreparação para identificar estas preciosas e riquíssimas alusões estílisticas) se tenha dado finalmente a consagração do sadomasoquismo como orientação sexual reconhecida pela ONU.”

Mais adiante

“Por enquanto ainda se mantém controversa e, por isso, facultativa a exigência de todos os obesos usarem cartazes ao pescoço dizendo «comer mata» ou «banha é crime»”

Pois é. E depois dizem que a Igreja não produz intelecutais de gabarito. É o não produzes.
Em suma identificam-se os grandes males do nosso tempo que é preciso combater e já!
A escalada galopante do sadomasoquismo - assunto sobre o qual reconheço a minha vergonhosa ignorância mas que, fazendo profissão de fé (amen) nos profícuos conhecimentos do Magister, ameaça os fundamentos da nossa civilização - e o inaceitável e repressivo combate ao direito que todos temos a engordar que nem porcos - que nem de longe nem de perto constitui um problema global e muito menos ameaça a nossa vibrante e imparável saúde pública.

E está este homem desaproveitado a escrever colunas jornalísticas (além das aulas na Universidade Católica, embora isso seja um grave desaproveitamento, dado o facto de por aí circular quem menos precisa destes insubstituíveis avisos) quando devia ser convidado para Magister da nação (inventei agora mesmo este cargo por inspiração directa de Bento CCCX que acaba de aparecer em cima da cabeça do meu gato, soprando ao meu ouvido – o que Portugal precisa não é de sindicatos ou de função pública, é de quem vos ensine os caminhos do senhor. Não tive tempo, é pena, de perguntar qual senhor, mas presumo que fosse o senhor Magister Neves.

É por estas e por outras que o país apresenta estes índices em resultados escolares. Se todas as universidades tivessem o Magister Neves como professor de Ética talvez Portugal voltasse a ocupar o pedestal mais digno do panteão das nações europeias. Juntos voltaríamos a correr pelas pradarias ao som de hossanas, embalados pelos cânticos dos justos, louvando as fontes de água viva que nos conduzem à paz da parvoíce. Cítaras e trombetas anunciariam os pés do mensageiro que trouxesse os perfumes da palavra divina, envoltos no proficiente entendimento do Magister. Senhor como é bom ouvir a tua voz. O teu cajado fortalece o nosso espírito nesta terra onde corre leite e mel e o Magister Neves recompensa os temerosos, censurando com vigor os iníquos, enquanto nos intervalos assina sebentas de finanças públicas em parceria com esse outro inefável Magister da Pátria – o probo Aníbal Cavaco Silva. Os dois juntos devolverão a alegria aos portugueses, indicando o caminho, conduzindo pela mão os filhos de Jacob, guiando às alturas paradisíacas da redenção as nossas mentes ínvias.
A voz do Magister Neves ecoando com estrondo nas consciências dos pecadores, ressoando como o bronze do juízo, acordando o fervor religioso que há, dormente, em todos nós, no momento em que uma forquilha empunhada pelo mafarrico me abrasava a carne fazendo correr lágrimas no meu rosto contrito e arrependido por todo o meu aviltante esforço em evitar gorduras.
Foi então que acordei e logo compareceram na minha consciência torturada as suaves palavras da minha tia Antónia quando, acossados pela chuva, descíamos a encosta da serra, sempre que se anunciava trovoada para os lados da serra do Açor. Sorria sossegando-me e murmurava a espaços, de lábios aflitos mas tocando serena com as mãos o pelo das cabras como que a reconhecer a finitude e a morte que há em tudo, "Nossa Senhora de Fátima salvai-nos e salvai Portugal".

1 comentário:

c.chaves disse...

É imperioso que se restabeleça a verdade relativamente a algumas imprecisões deste texto:

TU NÃO TENS UM GATO. É UMA GATA!

E devias deixar de ler as brochuras das Testemunhas de Jeová.
...Pradarias?
...Hossanas?
...Felicidade?

E aquilo do Robin Hood? A maçã é do William Tell! Pra quem vê futebol inglês, andas a trocar os nomes aos pontas de lança...
Ou é futebol escocês??!!!